Pense em uma época na qual uma doença misteriosa estava reduzindo a imunidade das pessoas drasticamente, ocasionando a morte de muitos. Em um congresso sobre doenças infecciosas na cidade de Nova Iorque, foram apresentados cinco casos clínicos de homens que eram aparentemente saudáveis, porém apresentavam uma grave deficiência imunológica. Outro ponto: esses homens eram homossexuais. A época: década de 1980. O nome da doença: AIDS.
Depois disso, vários outros casos foram relatados em comunidades gays dos EUA e Europa. Nos primeiros anos da epidemia, o meio científico chegou a falar em “grupos de risco” (homossexuais). Com isso, surgiu logo na imprensa a expressão “peste gay” ou “câncer gay”. Ora, esqueceram dos usuários de drogas injetáveis, receptores de transfusões de sangue e haitianos residentes nos Estados Unidos - ou seja, a expressão não passava de uma forma de preconceito contra os homossexuais. Contudo, esse termo colaborou bastante para a disseminação do vírus da imunodeficiência (HIV) já que criou o mito de que heterossexuais não eram infectados.
Clube de Compras Dallas se passa nesse período sombrio e conta a história real de Ron Woodroof (Matthew McConaughey). Caubói texano heterossexual de personalidade forte, Ron fazia bicos de eletricista, era homofóbico, viciado em apostas e cocaína. Ele vê seu mundo desabar quando descobre que é soropotivivo e tem apenas 30 dias de vida. Com isso, Woodroof decide buscar formas de sobrevivência, mesmo que ilegalmente. É assim que ele cria, em sociedade com a transexual Rayon (Jared Leto), o Clube de Compras Dallas, traficando para os Estados Unidos substâncias proibidas pela FDA (Food and Drugs Administration). A FDA estava ligada a indústrias farmacêuticas, as quais tinham como principal objetivo lucrar com a epidemia de AIDS vendendo elevadas doses de AZT , uma droga usada no combate ao vírus HIV, com efeitos colaterais devastadores.
O filme está concorrendo em seis categorias do Oscar 2014: Melhor Filme, Melhor Ator (Matthew McConaughey); Melhor Ator Coadjuvante (Jared Leto), Melhor Roteiro Original, Melhor Edição e Melhor Maquiagem.
Confesso que não conheço o trabalho do diretor Jean-Marc Vallée. Na verdade, o que me levou a ver o filme foi a sinopse e Jared Leto, ator e vocalista da banda 30 Seconds to Mars, cujas atuações em Réquiem para um sonho e Sr. Ninguém estão entre as minhas favoritas. No entanto, me surpreendi com a atuação de Matthew McConaughey, ator que, ainda que costume atuar como galã em comédias românticas, aceitou o desafio de atuar como Woodroof e, para isso, perdeu incríveis 20 kg. Nele, vi a determinação de um Daniel Day-Lewis, não é à toa que é favorito ao prêmio de Melhor Ator. (Desculpe Leonardo DiCaprio, mas não é dessa vez.) Jared Leto também surpreendeu ao representar o melhor papel de sua carreira, durante a gravação o diretor não viu Leto (heterossexual), mas sim Rayon (transexual). Jared realmente se transformou.
A impressão que Clube de Compras Dallas deixou em mim foi de um filme sem sentimentalismos, mas que, por incrível que pareça, consegue comover. Uma película que vale a pena ser vista. McConaughey e Leto merecem muito essas estatuetas.
Fonte das imagens: Cinema Uol.
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