Ray

Ray Charles Robinson, ou apenas Ray Charles, como é conhecido, não é nenhum artista novo, tampouco desconhecido. Acredito eu que a maioria das pessoas já esteja familiarizada com a sua imagem. Porém, não são muitos os que já dedicaram um tempo a conhecer sobre sua vida e música, principalmente quando se trata das pessoas mais jovens.

Ray nasceu em 23 de setembro de 1930, durante a Grande Depressão. Filho de negros pobres, foi criado basicamente pela mãe, Aretha, junto com o irmão mais novo. Ao contrário do que muitos pensam, Ray não nasceu cego. O cantor só perdeu a visão aos sete anos de idade – ninguém sabe exatamente o porquê. Porém, antes que isso acontecesse, Ray assistiu à morte do irmão, que se afogou em uma bacia enquanto brincavam. Tal acontecimento assombrou Charles durante toda a sua vida - e impulsionou seu vício em heroína, do qual, posteriormente, conseguiu se livrar -, principalmente pela culpa que sentia por não tê-lo salvo.  

Apesar de sua deficiência, sua mãe nunca perdeu a fé no filho que, segundo ela, era "cego, não estúpido", e o ajudou a se adaptar à vida sem a visão. Poucos anos depois, preocupada com o futuro do filho, mandou-o para uma escola para cegos e surdos para que tivesse o estudo que ela mesma nunca teve. Foi lá onde Ray também aprendeu a tocar instrumentos musicais.

Aos treze anos de idade, Ray perdeu a mãe e, aos quinze, tornou-se órfão. Contudo, este continuou os estudos e, mais tarde, mudou-se para Seattle, onde gravou o primeiro disco - em que Nat King Cole e Charles Brown foram grandes influências -, dando início a um importante legado musical, surpreendendo muitos que o subestimavam pela deficiência visual, superando o preconceito racial e ganhando admiradores no mundo inteiro.

Influenciado por diversos ritmos, em especial o gospel, o blues, o jazz, o soul e o country, Ray Charles ousou; procurava sempre experimentar e se arriscar musicalmente – atitude que, certas vezes, enlouquecia suas gravadoras, mas que sempre dava certo.

Numa dessas experimentações musicais, Ray compôs músicas que misturavam o ritmo do gospel com letras que falavam - implicitamente - sobre sexo, amor e mulheres - típicas do R&B -, o que ocasionou a fúria de muitos americanos, principalmente num período tão conservador, que encaravam sua música como blasfêmia. Ray apenas retrucava: o que poderia ser mais natural que sexo?

Depois de conquistada certa fama, por volta dos anos 1950, e em meio a um país extremamente racista, mas que já estava iniciando uma considerável luta pela igualdade, Ray foi até o estado da Geórgia, no sul dos EUA – onde o racismo era ainda mais forte –, para uma apresentação que faria. Entretanto, a caminho desta e sob pedidos de um militante negro, Ray se recusou a tocar, devido à segregação do público de acordo com a cor que haveria (o melhor espaço era destinado exclusivamente aos brancos, que ficariam separados dos negros, que, por sua vez, tinham outro lugar destinados para si), tornando-se o primeiro grande nome a se recusar a tocar para uma plateia segregada, descumprindo seu contrato e sendo banido de tocar no estado.

Feita a revolução pelos direitos civis e igualdade racial, Ray foi não só aceito novamente na Geórgia - que pediu desculpas ao músico - como sua música "Georgia on my mind" tornou-se uma espécie de hino oficial do estado.

Ray Charles Robinson morreu em 2004, vítima de uma doença no fígado. Sua história foi retratada - de forma bastante honesta - no filme "Ray", lançado no mesmo ano de sua morte, protagonizado por Jamie Foxx - que o representou de forma maravilhosa e, pelo papel, ganhou o Oscar de Melhor Ator -, o qual sugiro para aqueles que se interessaram por sua trajetória e ficaram curiosos por sua música. 

Fonte das imagens (respectivamente): Ray Charles Video Museum, Snapfish e Laaax.

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