Cidadãos de bem

Sou um jovem adulto - uma espécie de meio-termo entre adolescente e adulto - cheio de incertezas sobre o futuro. E, como tal, tenho observado os adultos, grupo do qual, em pouco tempo, farei parte, procurando modelos de vida em familiares, professores, pais de amigos etc. Eles são pessoas "de família", bons cristãos, e fizeram tudo o que se espera de uma boa pessoa: terminaram a universidade, constituíram uma família e são bem sucedidos. Quem melhor para se espelhar?

Infelizmente, o que vi desses cidadãos ditos "de bem", em geral, não me agradou. Tenho observado, pelo menos na minha cidade, uma classe média cada vez mais reacionária e hipócrita, nos mais diversos aspectos.
Pra começar, muitos desses cidadãos de bem adoram reclamar que a cidade está suja e que a praia a qual frequentam nas férias Salinas está parecendo um lixão, mas não pensam duas vezes antes de jogar lixo pelas janelas dos seus carros. Afinal, desde quando seu belíssimo carro virou lixeira para ficar guardando porcarias até chegar em casa, não é?

Já outros acham um absurdo o salário que ganham, mas não consideram errado o fato de não assinarem a carteira de trabalho da empregada doméstica e, ainda por cima, fazem questão de submetê-la a todo tipo de humilhação. Quando a empregada adoece, por exemplo, sequer preocupam-se com a saúde dela, apenas reclamam por ela os ter deixado na mão.

Os cidadãos de bem não gastam um tostão em livrarias, shows ou galerias de arte, mas compram o carro do último modelo para os seus filhos de 15 anos desfilarem pela cidade, velozes e furiosos, sem problema algum. Afinal, se um deles for apreendido, o papai vai Re$olver a situação.

Em tempos de eleição (não poderia deixar esta de fora), eles acham que o maior problema do país é a tal da corrupção, porém apoiam políticos que representam elites conservadoras que há gerações se mantêm no poder, visando apenas benefícios pessoais; votam em candidatos cujo slogan é "rouba, mas faz", já que, de acordo com eles, todo político é corrupto; ou simplesmente votam nulo ou em branco, estufando o peito para dizer que política é um assunto que não interessa.

Não satisfeitos com tudo isso, eles ainda reclamam do "país de merda" em que vivem e da sua cidade que nunca muda (lugares que, inclusive, abandonariam com gosto para morar nos Estados Unidos, terra adequada para os cidadãos de bem, como eles), mas jamais moveram um dedo sequer para promover projetos sociais, visando melhorar o lugar onde vivem.

Desgostosamente, vejo amigos e conhecidos seguindo os mesmos passos dessa geração de adultos. E, quanto mais cresço, mais tenho medo de me tornar um cidadão de bem. Do jeito como as coisas estão, talvez o que a nossa sociedade mais precise agora são de cidadãos "de mal".

Fonte da imagem: Ila Fox.

0 comments:

Postar um comentário