Consumidos

Quando eu ainda estava no Ensino Médio, durante uma aula de Matemática em que eu não estava dormindo, o professor comentou sobre um desafio proposto por um instituto matemático, o qual foi feito no ano 2000, e tratava-se da resolução de sete problemas matemáticos, sendo esses considerados os "problemas do milênio". O professor nos contou que um dos problemas havia sido resolvido por um matemático russo, e o mesmo recusou o prêmio de US$ 1 milhão, dado a quem for capaz de resolver cada problema, afirmando estar satisfeito apenas por sua solução estar correta.
Grigory Perelman, o matemático russo.
Após o professor compartilhar tal fato conosco, o mais interessante foi a reação que os alunos tiveram, eu inclusive. "Esse cara deve ser doido!", lembro-me de ter ouvido alguém comentar. Todos ali pareciam concordar com tal afirmação. E fazia sentido, não? Não necessariamente, acredito que ninguém naquela sala de aula estava apto a determinar a sanidade de uma pessoa, quanto mais a de um renomado matemático capaz de tal ato, ainda que ele more em um apartamento acompanhado de sua mãe e algumas baratas, segundo dizem.

Acho estranho eu ainda lembrar disso, acredito que muitos de meus companheiros de sala nem devam recordar desse fato. Mas o ponto em questão é: é, no mínimo, interessante o valor que damos ao dinheiro. Somos ensinados desde pequenos o valor de notas de papel, muitas vezes, antes mesmo de nos serem ensinados alguns valores essenciais, como respeito e dignidade. Acabamos passando nossas vidas inteiras buscando por maneiras de obter mais dessas notas, e deixamos de notar o que realmente nos importa, ou deveria importar, acredito eu.

No momento em que o professor nos contou sobre a recusa do matemático, acredito que teria sido, ao menos, mais sensato, termos nos perguntado se receber US$ 1 milhão seria tão satisfatório ao matemático quanto ter sido capaz de resolver o problema. O que acredito não ser. Satisfação é algo tão pessoal, e se isso fosse proporcional à quantidade de dinheiro que se tem, o mundo seria um lugar ainda mais triste.

Não sou rico, mesmo, e afirmo a mim mesmo que ter dinheiro é bom, mas, parafraseando Tom Jobim, "é impossível ser feliz sozinho". Assistindo um pouco à televisão é possível termos uma ideia do que as pessoas são capazes de fazer por algumas notas: assassinar, roubar, enganar, ficar trancafiado em uma casa e expor-se durante alguns meses para desconhecidos etc.

Não sou estúpido ao ponto de dizer que dinheiro não me interessa, afinal, a sociedade na qual vivo é capitalista e provavelmente sempre será. Mas acho que poderíamos melhorar esse sistema, torná-lo menos consumista. Por fim, termino com um ditado (corrigido): apenas dinheiro não traz felicidade. E no final das contas, meu caro, a felicidade é a coisa mais preciosa que há.

Fonte da imagem: Wikipedia.

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