Obcecado pela perfeição

"Depois de cinco tomadas, qualquer pessoa no mundo consideraria minha filmagem boa. Depois de catorze, seria quando até eu a consideraria perfeita. Mas depois de trinta, eu estava entrando em um novo domínio. Eu estava realmente consciente onde este pé ou aquele dedo estavam. Era fantástico." (Garret Brown, inventor e operador do Steadycam em O Iluminado)

Com uma carreira que durou cerca de 50 anos e autor de apenas doze filmes e dois curtas, o norte-americano Stanley Kubrick poderia passar por preguiçoso. Isso se ele não tivesse sido o obsessivo perfeccionista criador de grandes obras-primas como 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) e Laranja Mecânica (1971). 

Stanley era conhecido por ser extremamente exigente com os atores que faziam parte de seus filmes. Em seu último filme, De Olhos Bem Fechados (1998), conseguiu chegar a cem inacreditáveis takes em uma única cena.

Com o passar do tempo, Kubrick foi desenvolvendo um jeito próprio de dirigir. Sua devoção ao cinema o fez autoexilar-se no Reino Unido, para sair em busca de um lugar que lhe permitisse uma produção mais barata e que lhe oferecesse liberdade total pra criar suas obras-primas. Sua casa, no interior da Inglaterra, servia a seus propósitos cinematográficos: era onde ele fazia toda a pesquisa e pré-produção. Seu amigo e jornalista Alexander Walker o definiu como "um artista medieval vivendo sobre sua oficina". Stanley fazia questão de participar de toda produção de seus filmes. 

Talvez o filme mais polêmico de Kubrick seja Laranja Mecânica (1971), que chegou a ser proibido em diversos países. Já O Iluminado (1980) e Nascido para Matar (1987) pareciam as chaves de ouro para uma carreira fantástica até chegar sua última obra-prima, De Olhos Bem Fechados (1998), onde sua obsessão perfeccionista voltaria a se manifestar. 

Ao longo de sua ilustre carreira, Kubrick foi indiferente aos egos que feria pelo caminho, sempre permaneceu fiel apenas a si mesmo. Foi assim desde seu primeiro filme, o que contribuiu para consolidar uma fama de difícil, a qual ele nunca ergueu um dedo para atenuar. 

Kubrick era um desbravador de caminhos, desses que o cinema leva muito tempo para produzir e parece incapaz de assimilar.

Fonte da imagem: Bate Macaco.

2 comments:

  1. Gostei do texto, muito legal.

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  2. Gostei muito do seu texto, vou postar esse link na minha pág do facebook, tudo bem? É essa aqui: https://www.facebook.com/cinemautopico, obrigada.

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