A publicidade, o consumo e a criança

Diz-se que existem três poderes: o Legislativo, o Judiciário e o Executivo. Mas, na verdade, há um quarto poder: a Mídia, cuja grande habilidade é a de influenciar. E, no mundo atual, a maior expressão da Mídia é a televisão, mantida a partir da publicidade e da propaganda, que buscam, acima de tudo, vender produtos, opiniões e estilos de vida.

Essa publicidade e essa propaganda são, muitas vezes, abusivas, feitas para atingir os mais vulneráveis à manipulação: as crianças. Dessa forma, empresas associam seus produtos a brindes, embalagens atrativas e personagens queridos pelo público infantil para conseguirem, predatoriamente, vender.

Além disso, os produtos oferecidos geralmente não só são de baixa qualidade como são prejudiciais às crianças e geram problemas, como o consumismo e a obesidade infantil. Sendo que este último problema já atinge aproximadamente um terço das crianças brasileiras.

Infelizmente, os produtos alimentícios veículados na televisão brasileira hoje são, em sua grande maioria, gorduras, óleos e doces, ou seja, produtos de baixo valor nutritivo. E, de acordo com pesquisas, bastam 30 segundos para uma criança ser persuadida por um comercial de alimentos. Dessa forma, não coincidentemente, tem havido um crescente aumento da obesidade infantil e, de modo geral, do consumismo. E esses problemas não são endêmicos do Brasil, mas sim um fenômeno global. Por isso, em países de tradição democrática, como Bélgica, Dinamarca e Suécia, a publicidade infantil é proibida (inclusive, já há no Brasil um grupo que luta por essa causa,  o movimento Infância Livre de Consumismo).

E, para deixar claro, não critico a publicidade infantil da boca pra fora, mas por experiência própria. Passei toda a minha infância comendo todo o tipo de porcaria mostrada na televisão, tudo para ganhar brindes ou pelo simples prazer de consumir o que aparecia na TV, e, consequentemente, fui uma criança obesa gorda, baleia, um saco de areia NÃO AO BULLYING. Isso sem contar todas as porcarias que fiz meus pais comprarem (ou insisti muito para que comprassem) apenas por terem suas imagens relacionadas a personagens de desenhos animados queridos. Só depois, já dotado de certa consciência crítica, é que fui capaz de perceber a apelação feita pelos que tentam, de toda forma, vender e consegui me livrar, pelo menos em parte, do impacto que a Mídia me causava. Tenho dois irmãos mais novos e agora vejo o que ocorreu comigo acontecendo também com eles: ambos estão sendo transformados pela televisão em hábeis consumidores. 

Logo, é necessário que haja a ação de pais e professores, em conjunto com o Estado brasileiro, para, além de incentivar a atividade física e a boa alimentação, regular as propagandas veiculadas ao público infantil, restringindo qualquer abuso midiático. Devemos estar sempre atentos e tratar da publicidade infantil como uma questão séria, afinal, criança boa é criança saudável e livre do consumismo.

Fonte da imagem: Luciana Kotaka.

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