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Mulher gosta de apanhar?

Foi numa manhã de terça-feira, num rotineiro café-da-manhã que tomava com Creusa, diarista que trabalha no meu apartamento uma vez por semana, uma jovem senhora de cabelo loiro, pele branca que contrasta com as bochechas rosadas e um sorriso infantil, que ouvi a frase “eu sofri violência doméstica por vinte e oito anos”.

Tal confissão despertou não só minha indignação, mas minha curiosidade também. Por que alguém viveria num relacionamento abusivo por quase três décadas? Muitos simplesmente proferem a falácia que “mulher gosta de apanhar”, mas eu, principalmente como mulher, me recuso a acreditar nisso, e sei que é algo que vai muito além. Para mim, “mulher gosta de apanhar” é um reflexo de uma sociedade que sempre culpa a mulher – até pela violência que ela mesma sofre –, dita por pessoas que desconhecem o que se passa nesses relacionamentos. Filhos, dinheiro, medo, vergonha, religião e até mesmo amor se envolvem e, mesmo tendo a Lei Maria da Penha para a proteção feminina desde 2006, ainda é difícil se ver livre de um relacionamento abusivo.

Pelo fim da cultura do estupro

Herdeira de uma estrutura familiar patriarcal e machista, a sociedade brasileira naturaliza a cultura do estupro, na qual a mulher vive sob ameaça constante de sofrer assédio sexual, não podendo sequer andar livremente pelas ruas, simplesmente por ser mulher. Isso porque, neste país, a mulher é condicionada a seguir um padrão de comportamento, tendo várias obrigações para com o lar, enquanto o homem é educado para subjugar a parceira.

Trocando papéis

Quem aqui nunca foi advertido por fazer algo que era "coisa de homem" ou "coisa de mulher"? Eu, por exemplo, já passei por isso inúmeras vezes, quando me diziam que "mulher que fala palavrão é muito feio" ou, a mais antiga que eu me lembro e talvez a mais marcante, quando meu pai brigava comigo por eu, ainda criança, sentar de pernas abertas. Sabe? Que nem um menino. Mas não sou só eu que sofre com isso. Lembra quando homens não podiam usar rosa? Pois é, não faz muito tempo. Ou, ainda, quantas vezes você já ouviu que mulheres são melhores na cozinha do que os homens ou qualquer outra das milhões de frases assim?

A virgindade feminina


Desde cedo notava a diferença com que a sexualidade era tratada de acordo com o gênero. Para os meninos, era algo natural e incentivado (às vezes, até demais). Para as meninas, era tido como um tabu. Desde que nascem, meninas são ensinadas a reprimir sua sexualidade e a manter seu hímen intacto, como se toda sua dignidade dependesse disso.

Embora já tenha acontecido uma revolução sexual no século XX  muito importante, por sinal , atualmente, não sei se devido a um “retrocesso” ou pela insuficiência de tal manifestação, muitas famílias ainda têm a preocupação de privar suas filhas do sexo, ignorando todos os avanços socioculturais. Muitas vezes não por medo de doenças ou gravidez precoce, mas pela preocupação de manter a “pureza”, levando um simples pedaço de pele a uma supervalorização  que recentemente rendeu mais de um milhão de reais a uma brasileira.

Eu mesma já conheci garotas que casaram extremamente cedo apenas para poderem dar inicio a suas vidas sexuais em paz. Garotas de 17/18 anos precisam se submeter a uma decisão tão séria e tão cedo, abdicando de sua liberdade para viverem sob a prisão matrimonial apenas para poderem realizar a necessidade biológica e sentimental de transarem pela primeira vez.

Mas, afinal, por que o hímen é tão importante? Ou melhor: por que o prazer feminino ainda é tão preocupante? O que faz de uma mulher “intocada” melhor que uma “corrompida”? Por que “hímen” é sinônimo de “pureza”? Uma mulher, quando perde a virgindade, torna-se “suja”? Por que o gozo feminino incomoda tanto?

As boas mulheres da China


"Qual é a filosofia das mulheres? O que é a felicidade para uma mulher? O que faz uma boa mulher?"

Foi se fazendo essas três perguntas que Xinran desenvolveu o trabalho que deu origem ao livro "As boas mulheres da China", o qual indico fortemente.

Xinran é uma mulher chinesa, jornalista e escritora crescida durante a Revolução Cultural do seu país. Em uma manhã de 1989, ao chegar na rádio em que trabalhava, recebeu uma carta de um garoto, na qual ele denunciava um caso em que um homem de sessenta anos mantinha presa uma mulher nova - esposa que comprou, provavelmente raptada - presa com uma grossa corrente de ferro para que ela não fugisse dele. A jovem estava prestes a morrer e o garoto pedia a ajuda de Xinran, devido à influência dela. 

Meninas-mulheres e a infância perdida

Todos sabemos que as crianças têm o direito de viver sua infância. Isso até parece óbvio, no entanto, crianças vêm sendo expostas de maneira obscena em programas de TV e em concursos de "beleza mirim", onde passam por diversos tratamentos estéticos e comportamentais a fim de ficarem parecidas com miniaturas de modelos adultas, perdendo, dessa forma, a melhor parte de suas vidas: a infância.
 
É frustrante pensar que esses jovens seres passam por níveis de tensão tão desnecessários. As meninas precisam estar sempre perfeitas, parecendo bonecas,  mas agindo como se fossem adultas. As mães, que deveriam estar preocupadas com a educação delas, só pensam em satisfazer seus próprios egos. Afinal, não é para isso que expõem sem nenhum pudor as suas crias? Porque, se pararmos para pensar, esses concursos para escolher misses sei-lá-o-que só servem para isso mesmo, para consumar vontades e vaidades de alguns adultos.

O culto

Já dizia Vinicius de Moraes: "As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental." Devo concordar com ele, beleza é realmente fundamental. Mas fundamental apenas para um interesse superficial, sou incapaz de manter uma conversa com pessoas desinteressantes por mais do que alguns minutos, independente de sua aparência. Não costumo me importar com os outros, mas sou educado, acho.

Falo isso, talvez, por não ser um dos mais belos, mesmo. E, por isso, passei toda minha vida buscando outras formas de me diferenciar dos demais, sendo através de meus pensamentos e/ou minhas atitudes. Não obtive o sucesso esperado em minha "missão", mas continuo tentando extrair o melhor das horas em que passo assistindo a filmes, lendo livros e filosofando com meus amigos.

O segundo sexo

Antigamente, as mulheres eram vistas apenas como troféus, bonecas infláveis e donas de casa. Entretanto, com a Primeira Guerra Mundial, muitos homens foram convocados para lutar e, assim, as mulheres desfizeram-se das amarras do espartilho e passaram a ter seus primeiros empregos.

Nos anos 1950, vieram as pin-ups, musas pintadas de forma sensual, e o rock. Na década seguinte, Mary Quant criou a minissaia, exibida pela primeira vez pela modelo Twiggy, na Inglaterra, sendo, logo depois, adotada por toda juventude não-conservadora ao redor do mundo. Surgiu o Movimento Hippie e a pílula anticoncepcional, junto com o amor livre e, finalmente, nos anos 70, foi formada a primeira banda de rock constituída só por garotas: The Runaways. Junto com tudo isso, e mais a queima de sutiãs em praça pública, vieram também os direitos civis.

Hoje em dia, mulheres estudam, trabalham, escolhem casar ou não, são eleitas presidentes, enfim, são independentes. Apesar disso, mesmo as mulheres tendo conquistado seus direitos sozinhas num mundo predominantemente machista e conservador, alguns ainda mantêm a ideia de que o sexo feminino deve ser frágil e submisso – e até mesmo inferior. Mesmo sendo algo vergonhoso e comprovado como inverdade, há até mulheres, acostumadas com o modelo patriarcal, que pensam assim. Bonecas Barbie ainda existem para criar mulheres fúteis cujo maior sonho é casar.