Depois de ler Grande Sertão: Veredas, procurei por uma leitura mais leve, e eis que me
apareceu um livro juvenil intitulado As
vantagens de ser invisível, de Stephen Chbosky. Juro que não
tinha muitas expectativas quanto à qualidade literária da obra, porém Chbosky
conseguiu me surpreender com sua escrita única e personagens encantadores e,
mais além, deixou-me atormentado indagando o porquê de não ter lido esse
livro durante os meus 15/16 anos.
As vantagens de ser invisível é um romance epistolar no qual o
protagonista, um jovem americano de classe média chamado Charlie, conta a sua
história a partir de cartas destinadas a um "amigo", o qual o próprio narrador
desconhece. O mais novo de três filhos, Charlie é apaixonado por literatura, acaba de entrar no Ensino Médio e o seu único amigo comete suicídio. Como ele
mesmo diz: "Então, esta é a minha vida. E quero que você saiba que sou feliz e
triste ao mesmo tempo, e ainda estou tentando entender como posso ser assim."
Aparentemente, esse é um
daqueles livros adolescentes clichês que falam sobre como é difícil amadurecer
e tratam de assuntos polêmicos, como suicídio, drogas, gravidez
indesejada etc. Entretanto, classificá-lo assim é uma heresia, pois o autor
soube, acima de tudo, tratar desses temas com naturalidade e humor incomuns,
isso sem tirar a seriedade e relevância dessas questões, mostrando que são
coisas que acontecem e que temos que encarar durante a vida. Sobre as drogas,
por exemplo, ele escreve: "'Tá doidão?' E de novo minha mãe pediu ao meu irmão
para não usar mais aquela linguagem na minha frente, o que era estranho de
novo, porque acho que sou a única pessoa da minha família que já ficou doidão.
Talvez também meu irmão. Não tenho certeza. Minha irmã, definitivamente não.
Talvez toda a minha família já tivesse ficado doidona e nós não conversássemos
sobre essas coisas."
Charlie, o
narrador-protagonista, é extremamente tímido e inocente e tem 15 anos, embora
aparente bem menos que isso. Um dia, indo sozinho a um jogo de futebol da
escola, ele conhece os veteranos (e meio-irmãos) Sam e Patrick. Os três, embora
muito diferentes, logo tornam-se grandes amigos. E é a partir dessa amizade que
Chbosky nos apresenta aquela que talvez seja a essência do livro: a infinidade
do espírito jovem. "Eu tive uma sensação na sexta à noite, depois do jogo de
ex-alunos, que não sei se serei capaz de descrever, a não ser que eu diga que
foi ardente. (...) Depois que a música terminou, eu disse uma coisa. 'Eu me
sinto infinito.' Sam e Patrick olharam pra mim e disseram que era a melhor
coisa que já tinham ouvido. Porque a música era ótima e porque estávamos
prestando muita atenção nela. Cinco minutos de toda uma vida tinham se passado,
e nós nos sentíamos jovens de uma forma legal."
Se Charlie não fosse um
personagem encantador, provavelmente eu o teria odiado, pois o protagonista é
irritantemente inocente. Então, criei duas teorias: 1) O autor viajou bonito e
criou um protagonista amável e, ao mesmo tempo, terrivelmente idiota; 2) Tem
alguma coisa errada com esse garoto e ele deve estar escondendo um segredo.
Nas suas cartas, Charlie faz
uma narração sincera da realidade, relatando aquilo sobre o qual não falamos
por fingimos não existir ou que simplesmente esquecemos, é
nesse espaço que ele conta o que jamais falaria pessoalmente. Dessa forma, ele
nos mostra como ser invisível nem sempre é ruim. "- 'Ele é invisível.' E Bob
assentiu com a cabeça. E todos no porão fizeram o mesmo. (...) - 'Você vê as
coisas. Você guarda silêncio sobre elas. E você compreende.'"
Ler As vantagens de ser invisível sem dúvida foi uma experiência única para mim, tanto que vibrei de emoção ao
descobrir que o filme foi adaptado para o cinema este ano, com direção do
próprio Stephen Chbosky, atuação de Logan Lerman (Percy Jackson e o Ladrão de Raios), Emma Watson (Harry Potter) e Ezra Miller (Precisamos Falar sobre o Kevin) e uma
trilha sonora espetacular.
Por fim, depois de muitos
risos e momentos agonizantes com Charlie, seus amigos e família, aprendi uma coisa que
espero nunca esquecer: pessoas mudam, amigos partem e, um dia, vamos envelhecer
e nosso tempo irá passar, mas, pelo menos neste momento, nós, os jovens, somos
infinitos.
Fonte das imagens (respectivamente): Psycho Books e Filme-Trailer.
Preciso de sua ajuda.
ResponderExcluirEste trecho que você citou na resenha: "Eu tive uma sensação na sexta à noite, depois do jogo de ex-alunos, que não sei se serei capaz de descrever, a não ser que eu diga que foi ardente. (...) Depois que a música terminou, eu disse uma coisa. 'Eu me sinto infinito.' Sam e Patrick olharam pra mim e disseram que era a melhor coisa que já tinham ouvido. Porque a música era ótima e porque estávamos prestando muita atenção nela. Cinco minutos de toda uma vida tinham se passado, e nós nos sentíamos jovens de uma forma legal."Ele está em que página do livro?! Estou perdida,pois meu livro veio com as páginas finais no começo e essa citação veio logo no início,em uma página depois da apresentação do livro.O seu também veio assim? É normal? Me ajude,por favor.