Fim da MTV. Como assim? E agora?

Na foto, a geração de VJs que mais fez sucesso nos últimos anos.

Perto de completar 23 anos, o MTV Brasil vai fechar. Pois é, o grupo Abril, que licenciava a marca aqui no Brasil, tomou essa decisão há um tempinho, chocando - ou não - o público. O canal fez história durante toda sua trajetória, marcando diversas gerações e mudando a televisão brasileira. E agora, o que esse fim representa?

Bom, primeiro um pequeno histórico do canal. MTV Brasil é uma filial do grupo MTV (Music Television), lá dos EUA, pertencente a Viacom (também americana). Aqui, quem comprou para se tornar responsável foi o grupo Abril (sim, o mesmo de diversas revistas como a National Geographic Brasil e que agora anda comprando até escolas para seu domínio, mas esse é outro assunto que depois a gente conversa). Sua estreia foi no dia 20 de outubro de 1990, tornando-se a primeira rede de televisão aberta segmentada e também a terceira versão da MTV do mundo, sendo a primeira em TV aberta.

Essa filial brasileira sempre seguiu os princípios da sede, é claro: dedicar-se ao público jovem. Como a principal, a MTV Brasil tentou se adaptar às novas gerações, começando com dedicação praticamente exclusiva para música, com transmissão de clipes sendo o principal  fator. Depois, com o advento da internet, a emissora teve que tentar se reinventar, fazer com que a Music Television passasse a ser mais do que isso, já que o Youtube cumpria esse papel de apresentar os novos clipes para a garotada. Isso acabou gerando uma crise de identidade na emissora, como você pode saber mais aprofundadamente no texto de Thales Menezes.

Dessa forma, de uns tempos para cá os telespectadores começaram a perceber sinais de problemas na casa. Primeiro: costumava ter transmissão tanto na TV aberta quanto na fechada, mas, há poucos anos, as empresas pagas descartaram esse canal de sua lista - o que para mim foi um choque, pois num dia eu coloquei na MTV Brasil e no outro simplesmente não constava no catálogo. Quando voltei, por volta de 1 ano, 2 anos depois, na Sky, por exemplo, o canal estava meio que escondido. Constava no catálogo, mas perdido nos últimos números, meio que perdido por ali, como se a empresa não quisesse chamar atenção para ele. 

Segundo: as mudanças das diretrizes da própria MTV. A emissora nunca deixou de se voltar para o público jovem, só que esse público jovem mudou e ela teve que mudar. Começou com uma galera mais rockeira, mais alternativa, lá nos anos 90, que procurava um lugar para poder assistir aos clipes que curtia, ao estilo dos EUA, e na MTV Brasil encontrou um refúgio. A partir de 1999, porém, surgia mais uma necessidade. Essa geração que trocava de milênio tinha mais uma exigência. Eles pensavam "Ok, já temos nossos clipes, mas podemos encontrar em outros locais também. Agora a gente precisa de programas alternativos, já que só temos novelas etc, coisas que nossos pais também assistem, precisamos de algo só nosso". E, assim, a MTV Brasil criava os programas roteirizados, que continuam até hoje, como o escrachado Hermes & Renato.

Quanto mais o Youtube e a internet cresciam, mais o poder da música do canal que leva música no nome descentralizava, mais a MTV em sua essência perdia força, ao menos no Brasil. Eu acho que foi aí que começou a bater um leve desespero no canal e ele tentou mudar de forma, de linguagem e de aparência. Saiu daquela coisa mais rock que não tava dando muito certo com esta geração e foi para um lado mais pop. O problema foi que esse passo pode ter ido longe demais e acabou ficando uma coisa bem elitista, estilo patricinha e mauricinho mesmo, com VJs cada vez mais notados pela aparência que pelo conhecimento sobre o assunto, com o advento de programas como o Beija Sapo. Apesar disso, muitos dos seguidores do canal desde suas origens continuaram assistindo porque não tinha opção melhor e, querendo ou não, programas de sua vertente se mantiveram, como o Top Top MTV. Mas chegou a um ponto em que a lealdade foi enfraquecida: quando começaram programas como os dos colírios da Capricho, fugindo completamente de sua diretriz original e querendo atrair um novo público. Foi aí que ela pecou: o público da Capricho assistiu ao programa, mas não se identificava totalmente com o canal, e o público antigo foi perdendo cada vez mais essa identidade também.

A salvação da MTV Brasil, nesse cenário, passou a ser, cada vez mais, o humor. Marcos Mion e sua turma já eram velhos e adorados conhecidos, mas quem impulsionou a geração Y - novo público - foi aqueles da vez de Marcelo Adnet, Dani Calabresa, Fábio Rabin, Tatá Werneck, Bento Ribeiro e cia. Quando tudo, então, parecia estar aguentando bem nas crises internas de administração da emissora, eis que os principais humoristas começaram a sair, um por um: Adnet para a Globo, Dani para CQC, Tatá foi para as novelas. Foi como uma batida derradeira no que já estava machucado. Mas por quê? Por que tanto impacto se a saída de VJs sempre ocorreu? Bom, eu não sei, mas acho que é culpa da geração Y, que já não perdoa tanto a MTV e nem se mantém leal com ela nos altos e baixos, porque, afinal, a emissora não tem tanta importância para a gente quanto para a geração X, que se sentiu refugiada e mais próxima da MTV Brasil.

Bom, de qualquer forma, foi isso: a MTV vai fechar no dia 30 de setembro de 2013. E agora? Não se desespere porque todo fim leva a um começo, como alguém muito esperto disse em algum momento. Para a MTV Brasil, isso significa que: 1. A marca que estava meio que "alugada" pela Abril volta para sua mamãe: a americana Viacom; 2. de acordo com a MTV Identidade, a Abril vai lançar um novo canal; 3. de acordo com a Folha Ilustrada, a Viacom vai relançar a MTV na TV paga no dia 1º de outubro (lágrimas de felicidade escorrem neste momento).

Contudo, para o campo do humor característico no Brasil pela MTV, isso significa outra coisa:

1. Como já podemos perceber, o canal da TV paga Multishow está ganhando cada vez mais força nesse setor, com a contratação de atores como Fábio Porchat, Clarice Falcão e Gregorio Duvivier. A tendência é que isso se expanda cada vez mais.

2. Com a nova lei que obriga os canais por assinatura a terem uma programação brasileira maior, houve também um crescimento no número de séries nacionais, que passam inclusive no Warner Channel Brasil e no Canal Sony. Espera-se que a produção brasileira de televisão no setor do humor também cresça.

3. Se você olhar de perto, esses mesmos atores citados no ponto 1 também fazem uma carreira paralela, digamos assim, na internet. E, aliás, juntos: o Porta dos Fundos, que lança vídeos novos nas segundas e quintas-feiras (na foto ao lado, está Duviviver em vídeo do canal).

Outra tendência é que o número de canais online como esse também aumente. Os órfãos da MTV Brasil encontram no Youtube uma saída alternativa a programas como o Fantástico - que, como já vimos, conseguem estragar até o Marcelo Adnet. Na verdade, é o que eles já veem fazendo. Por exemplo, Bento Ribeiro, Bruno Sutter, Paulinho Serra e Daniel Furlan, os atuais componentes do programa Furo MTV, agora têm, juntos, um canal no Youtube chamado Amada Foca, onde publicam vídeos de humor toda terça e quinta. Confira aqui.

Pois é, é isso mesmo. A MTV que a geração X conhecia foi embora há muito tempo. A MTV que a geração Y conhece está dando adeus. Os canais online estão crescendo, a Multishow também, as produções nacionais como um todo estão ganhando força cada vez mais. Ou seja: a MTV pode até acabar, mas a sua essência continua viva no legado que deixou em milhares de pessoas dentre as que a assistiram e a construíram. Agora, ficamos no aguardo da nova MTV, administrada por sua própria dona, a Viacom. Vamos ver no que vai dar. Enquanto isso, acompanhe a partir da próxima segunda, 19, uma série de retrospectivas na MTV Brasil, chamada "My Mtv", às 17h30, na qual ex-VJs vão dando seu tchau.

Para finalizar, assista ao vídeo emocionante com ex-VJs da MTV Brasil falando da sua história na emissora:

Fonte das imagens (respectivamente): Acesso Livre e G1.