Por que o Mais Médicos tá causando tanto barulho na casa?

Jornalista Micheline Borges faz publicação no Facebook dizendo que médicas
 cubanas parecem com empregadas domésticas.
Ela deletou sua conta na rede social após a repercussão de suas declarações
Há quase dois meses o Governo Federal lançou o programa Mais Médicos, que tem o objetivo de aumentar o número de médicos atuantes na rede pública de saúde em regiões carentes, principalmente nas cidades interioranas. Para isso, “importaria” médicos estrangeiros, como de Cuba. A notícia causou o maior alvoroço desde seu anúncio até o momento atual, quando os cubanos já estão no Brasil. Mas por que tanto medo/ódio/aversão a esses profissionais? Vou levantar algumas... hipóteses.

Tá, mas se você está voando e não sabe o que é, afinal, o Mais Médicos, deixa eu contar. O programa foi a resposta dada pelo governo diante do cenário realmente triste em que se encontra a situação atual da saúde pública brasileira. Ele faz parte de um pacto de melhoria de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), que prevê mais investimentos em infraestrutura dos hospitais e unidades de saúde, além de levar mais médicos para regiões falta profissionais. (informações do Portal da Saúde)

Na prática, o programa resulta na convocação de mais médicos para atuar na atenção básica de municípios com maior vulnerabilidade social e Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). Propõe também a expansão do número de vagas de Medicina e de residência médica, além do aprimoramento da formação médica no Brasil.

O plano parece ótimo, não é? Então, qual foi o problema? Bom, o que causou a polêmica foi, como eu já disse, o programa prevê a importação de médicos estrangeiros, como os cubanos, e os brasileiros não querem eles aqui.

A história disso tudo começou em 8 de julho, quando a medida foi anunciada. O Brasil estava em meio àquela onda de manifestações e é claro que o programa não escapou. O pessoal da área de Medicina foi às ruas com o clássico nariz de palhaço para protestar, afirmando que os médicos estrangeiros iriam “roubar suas vagas”. Mas eles não estavam levando em consideração um fato fundamental: no Brasil, não há médicos suficientes – pelo menos não na rede pública. Assim, nenhuma vaga na verdade seria “roubada”, porque os médicos brasileiros não querem ir trabalhar num hospital do SUS no interior do interior do interior quando podem abrir uma clínica particular na capital, na qual eles mesmo podem administrar e cobrar o preço que consideram adequado, ter acesso à internet de qualidade e outras vantagens de uma cidade mais desenvolvida.

Veja bem, não estou em momento algum considerando melhor médico aquele que trabalha na rede pública ou vice-versa, apenas estou relatando a realidade. De acordo com o Ministério da Sáude, o Brasil possui, hoje, “1,8 médicos por mil habitantes. Esse índice é menor do que em outros países, como a Argentina (3,2), Uruguai (3,7), Portugal (3,9) e Espanha (4). Além da carência dos profissionais, o Brasil sofre com uma distribuição desigual de médicos nas regiões - 22 estados possuem número de médicos abaixo da média nacional” Isso pode ser conferido no Diagnóstico da Saúde no Brasil.

O resultado das inscrições da primeira chamada do Mais Médicos foi a maior prova de fogo que comprovou que os protestos estavam errados e que, não, os médicos brasileiros não querem trabalhar no interior nas condições mencionadas. Deacordo com a Agência Brasil, dos 16.530 profissionais com diploma brasileiro ou revalidado preliminarmente inscritos no Programa Mais Médicos, apenas 938 confirmaram a participação. O número equivale a 6% da demanda dos municípios, que apontaram a necessidade de 15.460 médicos. Os profissionais vão atender a regiões carentes de 404 municípios.

Tudo isso quer dizer, mais uma vez: os brasileiros não querem trabalhar nas periferias e cidades do interior. Mas, apesar disso, essas localidades não podem ficar sem médicos. É por isso que foram chamadas as forças estrangeiras. E, desde o final de semana passado (24 e 25 de agosto), os cubanos começaram a chegar. Foi então que a vergonha maior começou: esses profissionais foram recebidos com a maior falta de educação possível, com direito a, inclusive, uma declaraçãoofensiva da jornalista Micheline Borges dizendo que as médicas cubanas pareciam “empregadas”. Deixo claro que estou chamando de ofensiva pela forma preconceituosa e arcaica que a “jornalista” infere que negras só podem ser empregadas domésticas.

Profissionais da saúde de Brasília fazem protesto contra o programada Mais Médicos.


Agora, finalmente, chego onde queria chegar: qual a razão de os brasileiros demonstrarem esse tipo de reação? Aqui vão minhas hipóteses:

1.      Medo do Comunismo
Por mais Guerra Fria que isso pareça, não se pode negar que considerável parcela da população capitalista ainda considera comunistas comedores de criancinhas. É por isso que tem muita gente (e não estou falando apenas de quem está envolvido na área de Medicina, mas o público em geral) achando que os cubanos estão vindo ao Brasil para implantar a sementinha comunista e fazer uma revolução dominadora do nosso país.

Não podemos culpar a população por imaginar tais coisas, já que na maioria das vezes que a mídia retrata Cuba destaca o fator comunista do país. Bom, deixe-me contar uma coisa para quem está pensando isso: o planeta Terra está chamando, pare de viajar, cara. Isso não vai acontecer. Eles vieram apenas trabalhar. Apenas trabalhar. Apenas. Da mesma forma como muitos brasileiros vão para o exterior trabalhar também. Comunismo e capitalismo, profissões à parte.

2.      Racismo
Olhe para os cubanos. Agora olhe para os europeus. Sim, os cubanos são majoritariamente negros e os europeus são majoritariamente brancos. Será realmente uma grande coincidência o fato de que há esse tipo de reação quando cubanos vêm para o Brasil e há uma reação totalmente diferente quando são os europeus a virem?

Será que o problema que os opositores do Mais Médicos encontram é realmente ligado ao fato de esses médicos serem estrangeiros? Bom, primeiro que, se fosse, o nome disso seria xenofobia. A gente fala tão mal da Europa quando não querem um dos nossos trabalhando lá e agora repetimos a falta de educação e consciência. Segundo que não, não é só isso, é pior. Porque se fosse assim, haveria esse mesmo tipo de rejeição em relação ao programa Ciências Sem Fronteiras (CsF), que também traz estrangeiros para estudarem (no caso dos pesquisadores, que é também um trabalho) no Brasil. Só que são europeus, asiáticos e norte-americanos e não cubanos.

3.      Não reconhecimento da precariedade do Brasil
Brasileiro adora falar mal do Brasil e o comparar negativamente com os países desenvolvidos da Europa, da Ásia e da América do Norte, mas quando chega o momento de perceber a infeliz realidade de nosso país e compará-lo aos países subdesenvolvidos da África e da América Latina brasileiro algum aceita.

O Mais Médicos nunca declarou que o estado deste país está parecido aos dos países africanos, mas já comparou negativamente com os da América do Sul e nós odiamos perder para nossos vizinhos, não importa qual o assunto. Além disso, a própria situação de o Brasil precisar de ajuda de fora já causa certo sentimento de derrota. Até porque os brasileiros mesmos realizam trabalhos em países pobres, como os soldados da paz da ONU que trabalham no Haiti. É por isso que Caetano e Gil já disseram uma vez, “o Haiti é aqui”, mas os brasileiros ODEIAM que isso seja verdade e dificilmente vão dar o braço a torcer. Até porque na visão comum é assim: Brasil nunca vai chegar aos pés dos europeus, asiáticos e norte-americanos, mas também não desce tanto ao nível dos africanos e o restante dos latino-americanos.
Isso leva à próxima hipótese, que se liga a todas as outras:

4.      O ódio contra os pobres
A elite brasileira tem um ódio declarado aos pobres. Declarado não apenas pelo preconceito, mas por ser contra programas que lancem uma pequena luz de esperança de melhoria de vida às classes mais baixas. Programas tais como o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e, é claro, o Mais Médicos. Tudo bem que a ementa deste programa do Ministério da Saúde não é voltado diretamente para os mais pobres, mas convenhamos que está óbvio que estes que devem ser os verdadeiros favorecidos. Não porque apenas essas classes vivam nas periferias e cidades interioranas (apesar de ser a maioria), mas porque quem é de classe média ou alta tem condições suficientes de ir aos centros e capitais buscar atendimento médico, coisa que pobres não têm.

Ou seja, tudo isso que eu disse quer dizer o seguinte: o Mais Médicos é um programa de melhoria da saúde nacional. Para que isso seja obtido, temos que chamar gente de fora, porque os daqui não são o suficiente. E eles estão vindo trabalhar e não dominar o país.

É isso, não adianta reclamar. O Brasil tem problemas como o Haiti e as classes mais baixas finalmente estão ganhando sua vez. Não vão ser uma porção de pessoas mal educadas com jaleco e nariz de palhaço que vão impedir. Pelo menos espero eu, pelo futuro da nação.

Agora, para concluir, assista ao vídeo abaixo da recepção dos médicos cubanos em Fortaleza e se sinta tão envergonhada(o) quanto eu:


Fonte das imagens (respectivamente): Pragmatismo PolíticoSUS Brasil e Agência Brasil.

1 comments:

  1. Nunca li tanta besteira nesse Blog. É a repetição de um discurso de alienação política, preconceito social (contra a classe média), e descriminação contra uma classe inteira de trabalhadores. Com informações que parecem ter sido tiradas de um "Jornal Nacional de esquerda". Deixa eu te explicar umas coisas, mas antes vou citar uma parte do teu próprio texto:

    "Assim, nenhuma vaga na verdade seria “roubada”, porque os médicos brasileiros não querem ir trabalhar num hospital do SUS no interior do interior do interior quando podem abrir uma clínica particular na capital, na qual eles mesmo podem administrar e cobrar o preço que consideram adequado, ter acesso à internet de qualidade e outras vantagens de uma cidade mais desenvolvida."

    Na verdade não é isso que ocorre, basta olhar o número de médicos inscritos no programa 16.530, e o número de confirmados 938. Isso significa que 16.530 médicos estavam dispostos a trabalhar no SUS e no "interior do interior do interior" recebendo o salário proposto pelo governo, mas quando chega a hora de ir lá trabalhar, o governo avisa pra eles que, não tem plano de carreira, eles serão contratados, podem ser demitidos a qualquer momento, aí depois disso o número evidentemente diminui drasticamente para 938.

    Eu sou radiologista, concursado, trabalho no interior pelo SUS, mas tenho um plano de carreira digno por ser um concurso da capital do estado, apesar de eu trabalhar no interior. O governo anuncia salários de R$10.000 para médicos trabalharem no interior, contratados e sem plano de carreira, mas procure saber qual é o salário para o mesmo médico concursado, com um plano de carreira digno, pode deixar eu mesmo respondo R$975,00, isso mesmo novecentos e setenta e cinco reais.

    E pra finalizar, vou deixar um vídeo pra você assistir e se informar:
    http://www.youtube.com/watch?v=3XN3Nf_ep3Q

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