No dia 31 de julho deste ano, algo inesperado aconteceu na cidade de Paranapanema, no interior de São Paulo: o prefeito renunciou ao cargo. A justificativa? Trabalho demais, salário de menos. O ginecologista Márcio Faber, antes de assumir a prefeitura desse município, possuía uma renda mensal de aproximadamente 30 mil reais como médico, salário este que caiu para 5,8 mil reais atuando como prefeito. Obviamente que, ao se candidatar, Faber já tinha conhecimento de quanto receberia mensalmente, no entanto, declarou achar que conseguiria conciliar os dois empregos. Após ser eleito, porém, essa conciliação não foi assim tão simples, uma vez que tanto o exercício da medicina quanto a administração bem feita de uma cidade exigem disponibilidade de tempo e dedicação. Aliando isso ao fato de que, segundo o médico, não está clara na lei a possibilidade de um prefeito manter uma segunda profissão, ele preferiu a renuncia à possibilidade de cassação do seu mandato. Preferiu manter seu estilo de vida honestamente exercendo sua antiga profissão a utilizar dos recursos do município para tal, como o próprio declarou quando interrogado sobre sua decisão.
O caso teve certa repercussão na mídia, portanto, alguns de vocês, caros leitores, provavelmente já ouviram falar dessa história. O fato ocorrido na pequena cidade de apenas 11 mil habitantes é interessante, inusitado, pode ser analisado sob várias perspectivas e levanta questionamentos importantes, mas que, apesar da divulgação recebida, na minha opinião, não foram tão considerados quanto deveriam. A maioria das reportagens, na verdade, apenas descreve brevemente o acontecido.
No entanto, se analisarmos um pouco mais a fundo, podemos interrogar: será que a maioria dos demais políticos são "melhores" que Márcio Faber? Melhores ao ponto de aceitar a enorme demanda de trabalho em troca de um salário nem tão enorme assim? E se forem, de fato, melhores, então, de onde vem afinal essa visão que temos - comprovada diariamente, apenas observando os políticos da sua cidade - de que políticos têm boas condições financeiras se a renda mensal a eles designadas pelo cargo não é alta? Será que eles fazem uso dos recursos públicos ilegalmente ou misteriosamente fazem nascer dinheiro?
Bem, em uma das reportagens abordando o tema, foi dito que o prefeito de Paranapanema, assim como de qualquer outra cidade, não poderia assumir outro cargo público, mas, de acordo com a lei, nada o impediria de continuar atendendo em consultório particular. Logo, partindo desse pressuposto, será que os políticos bem sucedidos mantêm outro emprego no qual tenham um bom salário mas, ainda sim, entraram na vida política com a única intenção de trabalhar em prol do município, estado ou do país? Se assim o fazem, por que os mesmos "bons cidadãos" agem inúmeras vezes com tanto descaso para com a sociedade que deveriam estar ajudando, solucionando problemas? Teoricamente, foi para isso que se candidataram, não é mesmo?
A renúncia de Márcio nos leva a refletir ainda sobre a remuneração do cargo em si. 5,8 mil reais são suficientes para recompensar o trabalho dispensado à administração, no caso, da cidade de Paranapanema? O salário é justo? É claro que não é o mesmo valor em todos os lugares, mas, em muitos, a diferença não é grande e aqui não me refiro aos 5, 8 mil, mas à relação de equilíbrio entre o que é dado e o que é recebido, entre trabalho e remuneração justa. E se não for justo? Isso justifica a corrupção, os rombos nos cofres públicos, a má administração dos quais somos vítimas e ao mesmo tempo coniventes com a situação? Creio que não, mas, ainda assim, elegemos os criadores de slogans como "rouba, mas faz". Então, somos nós, eleitores, os culpados de toda a patifaria que existe pelas câmaras, senados e prefeituras Brasil afora? Ou apenas vítimas inocentes da boa oratória ilusionista?
Ora, leitores, sabemos que muitos daqueles que decidiram seguir carreira política o fazem com segundas intenções. Sabemos também que há exceções. Sabemos que há aqueles que votam conscientemente e aqueles que não. Sabemos que sempre há os dois lados da mesma moeda. Obviamente, não sou a pessoa mais indicada para responder as questões que propus acima, contudo, sou uma cidadã, assim como vocês, e reflito sobre as mesmas. Deixo a vocês a reflexão do tema que, por sinal, é muito importante e tem total relação com a nossa vida individual e em sociedade, afinal, a política está presente em tudo e a todo momento, logo, é essencial e merece ser objeto de nossas reflexões. E, sendo assim, o que vocês, leitores, pensam sobre a renúncia do prefeito de Paranapanema? Irresponsável? Descompromissada? Ou honesta?
Fonte das imagens (respectivamente): Turismo SP e SGA Notícias.
É... Ele pode ter saído por n motivos, que nunca saberemos realmente qual é.
ResponderExcluirO fato é que tanto R$5,8 mil quanto R$30 mil sustentam uma família. Talvez o futuro que ele teve não foi o mesmo que ele imaginou. Isso acontece com todo mundo, inclusive prefeitos.
E se ele saiu somente por causa do dinheiro, tudo bem. Desde que ganho de forma justa, cada um sabe o que é melhor p/ si.
É difícil mensurar o quanto o um político deve ganhar. Acho que os que realmente gostam de servir, e se dedicam ao cargo, deveriam ser proporcionalmente melhor recompensados (afinal, isso é muito raro de se encontrar). Alguma coisa baseada na aprovação, talvez funcionasse.