Meninas-mulheres e a infância perdida

Todos sabemos que as crianças têm o direito de viver sua infância. Isso até parece óbvio, no entanto, crianças vêm sendo expostas de maneira obscena em programas de TV e em concursos de "beleza mirim", onde passam por diversos tratamentos estéticos e comportamentais a fim de ficarem parecidas com miniaturas de modelos adultas, perdendo, dessa forma, a melhor parte de suas vidas: a infância.
 
É frustrante pensar que esses jovens seres passam por níveis de tensão tão desnecessários. As meninas precisam estar sempre perfeitas, parecendo bonecas,  mas agindo como se fossem adultas. As mães, que deveriam estar preocupadas com a educação delas, só pensam em satisfazer seus próprios egos. Afinal, não é para isso que expõem sem nenhum pudor as suas crias? Porque, se pararmos para pensar, esses concursos para escolher misses sei-lá-o-que só servem para isso mesmo, para consumar vontades e vaidades de alguns adultos.

Logo, isso muitas das vezes gera consequências ruins na formação da personalidade da criança. Há, desde cedo, o enfraquecimento da autoestima (sabemos como funcionam os concursos de beleza). Além disso, as mães, para piorar a situação, exigem mais e mais das filhas, forçando-as a fazer aquilo que não querem, chegando até a humilhá-las em público quando não obtêm o resultado tão almejado.

É importante ressaltar que o Estatuto da Criança e do Adolescente (Art. 232) diz que qualquer exposição da criança a situação constrangedora é crime, com pena de detenção de dois a seis anos. Esse tipo de atitude deveria ser levada mais a sério, sendo investigada pelo Conselho Tutelar e pelo Ministério Público, pois as crianças também precisam ter seus direitos assegurados.

Para exemplificar, encontrei o site High Glitz, da fotógrafa americana Susan Anderson, que retratou meninas extremamente maquiadas e produzidas. Vejam as fotos e prestem atenção às expressões faciais da maioria das crianças fotografadas: notam-se olhares tristes, sorrisos cansados e postura que por si só grita um "não aguento mais". Pois é, essas crianças são submetidas a tratamentos que não são ideais para a idade delas, passam a usar batom, blush e unhas postiças, fazem a sobrancelha e balaiagem. Certamente não há nada de fashion nisso.

Isso tudo também leva a uma outra questão: a erotização precoce. Esse estímulo à sensualização das crianças é um desrespeito não só à idade, mas aos direitos delas. Não podemos generalizar, mas as mesmas, por conta dessas atitudes que as fazem "esquecer" da sua dita idade, podem acabar sendo expostas precocemente ao sexo, podendo levá-las a engravidar ainda na adolescência, uma vez que todo esse glamour dificilmente é acompanhado de uma boa lição de educação sexual. Tudo isso por conta da negligência de algumas mentes nada brilhantes, seus pais, que não permitem à criança viver livremente sua infância por não conseguirem enxergar seus filhos como seres diferentes deles, como indivíduos em formação. 

Para mim, essas crianças, quando crescerem, podem sim querer seguir a carreira artística. No entanto, elas só irão decidir quando tiverem idade suficiente para isso, mas enquanto não chegam à idade adulta devem ser como qualquer outra criança que corre, cai, põe os pés na lama, brinca de boneca, joga videogame e pratica esportes. Logo, isso tudo depende apenas dos pais, aqueles que deveriam educá-las, apresentando a elas valores éticos, ensinando-as a ter autonomia e, acima de tudo, a ter respeito.

Fonte das imagens (respectivamente): 
Dia-a-Dia Revista e High Glitz.

8 comments:

  1. Gostei do Texto apesar de não ser uma menina.
    Acho realmente que alguns pais podem ser fúteis, porem acho que a maioria dos pais não humilhariam os filhos só porque não conseguiram o resultado esperado.

    Na minha opiniao esses tipos de competições são bons para levantar o espirito competitivo das crianças e também se os pais orienta-las de maneira correta vão saber que nem sempre da para vencer. Eu acho que é a mesma situação quando um pai coloca o Filho no futebol quando criança, o filho esta sujeito a perde campeonatos, jogos...

    Eu acha que cada geração tem um estilo diferente de infância, porém algumas mudanças são para melhores ou piores.

    Atenciosamente,
    Flavio Guilherme ^^

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  2. Entendo seu ponto de vista, Flávio.
    Obrigada por expressar sua opinião. Continue acompanhando os textos do blog. =)

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  3. Olá, Flavio, muito importante sua contribuição para o blog :)

    No entanto, discordo que estimular um "espírito competitivo" seja algo importante para a formação saudável de uma criança. Realmente é isso o que a sociedade espera de nós, mas é uma lógica muito negativa para o desenvolvimento humano.

    Por que os pais, assim como a maioria da população, dificilmente lembram ou ressaltam a importância da colaboração em detrimento da competição? Será que não estamos invertendo os valores mais fundamentais? Trabalhar em conjunto, com a participação de todos em prol de um objetivo comum, estimulando a responsabilidade e o exercício do "dar o melhor de si" de acordo com as limitações das condições sociais, sempre será, na minha opinião, muito mais interessante.

    Competições não acrescentam em nada na vida das pessoas além de angústias e preocupações excessivas. Até porque o desenvolvimento humano está muito menos relacionado com a ideia utópica e nada construtiva de "alcançar o topo" do que com "sair do lugar em que se encontra", locomover-se, modificar o mundo e ser modificado por ele.

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  4. Oton, eu discordo quando você quando fala que "competições não acrescentam nada", dependendo da competição acrescenta trabalho em grupo, companheirismo, o problema é que esses preceitos que eu coloquei agora são colocados de lado justamente pela competição e por aquela vontade de vencer (o que aborda as angústias que você colocou).
    E eu não vejo sinceramente problema em haver essas angústias pois infelizmente a nossa sociedade competitiva nos impõe isso, o problema (este é o ponto que eu concordo com o resto seu ponto de vista) é já colocar isso para as crianças, de forma cruel.
    Crianças devem se divertir, se disputarem alguma coisa assim é sem fins lucrativos para os pais e sempre o apoio para tomar o tempo livre de alguma criança e ela justamente ser feliz e alegre com o que disputa, indiferente se perder ou não.
    Mas na prática não é isso que acontece, por isso o que é realmente importante para uma criança e que pode aderir para o crescimento dela são deixados de lado e se tornam irrelevantes, uma vez que tudo o que colocam em suas cabeças é ganhar ou perder.
    Agora sobre o fato no texto, de competições de moda com fins lucrativos, se trata de um egoísmo dos pais que não pensam na evolução educacional de seus filhos, e isso é repugnante.
    Texto muito bom, argumentos bem postados no texto, parabéns aos envolvidos

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  5. Muito obrigado pela contribuição, Anônimo ;)

    Teve uma frase que me incomodou na sua argumentação: "E eu não vejo sinceramente problema em haver essas angústias pois infelizmente a nossa sociedade competitiva nos impõe isso". Então, devemos nos submeter às condições impostas pelo que é dado por nossa sociedade? Obviamente, devemos entender o mundo em que vivemos para sabermos viver, em certa medida, de acordo com nossa sociedade. Afinal, não temos como nos isolar completamente, nem - se possível fosse - seria algo benéfico para nós mesmos. Contudo, não podemos nos entregar ao que nos é dado. Se percebemos algo que consideramos prejudicial para nós mesmos e para nossa sociedade, temos responsabilidade sobre as mudanças que entendemos serem necessárias. Não sei se foi o que quis dizer, mas pareceu um argumento um tanto acomodado.

    Nossa sociedade competitiva nos impõe muitas coisas, mas penso que devemos resistir a elas, trabalhando para mudá-las, não aprendendo a conviver com o contrário do que defendemos. Infelizmente, essa é a posição de grupos políticos que se denominam "progressistas": mudar pequenos fragmentos para petrificar a estrutura das coisas.

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  6. Acho que angústias fazem parte do crescimento na fase adulta, não quis me parecer acomodado por mais que eu tenha parecido apresentar isto, a própria angústia de ás vezes tentar mudar algo e não conseguir (o que não é desculpa para desistir de mudanças) é um exemplo disto.
    Indo para um lado mais pessoal, tenho o mesmo pensamento de sempre tentar esta mudança e não se acomodar com as imposições. É o meu maior medo após o profissionalismo, uma vez que vivemos num país que sociologicamente nem atingiu a modernidade por vários fatores dos quais eu acho que um estudioso como você conhece
    O espírito é nunca se acomodar, concordo com você amigo.

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  7. (só pra constar, esses dois últimos comentários anônimos foram feitos pela mesma pessoa)

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