A importância dos referenciais

Por hora, somos jovens, mas, daqui a pouco tempo, seremos adultos, não pela idade, até porque não existe idade certa, mas porque estamos crescendo nem tanto e aí vem a faculdade, o trabalho, a família e teremos cada vez mais preocupações e responsabilidades. O tempo não para. Querendo ou não, as nossas atitudes de hoje influenciarão no que seremos no futuro. Estamos descobrindo quem somos, formando caráter e, para isso, inevitavelmente, buscamos referências, exemplos a seguir na sociedade, algo do tipo: "Quando crescer, eu serei igual a fulano!", que às vezes pensamos até inconscientemente. Lemos, escutamos músicas, assistimos a filmes, observamos os adultos que nos cercam e, de certa forma, somos uma mistura de tudo isso.

Outro dia, conversando com o meu pai, começamos a discutir sobre as referências que nós, jovens, temos hoje. O meio de comunicação de massa mais utilizado atualmente é a televisão – lê-se Rede Globo, terceira maior emissora de TV do mundo, mas que supera as outras duas em termos de manipulação influência –, que transforma em sucesso (referência) a maior parte do que divulga, priorizando o que dá mais lucro. Sendo assim, não é necessariamente por, digamos assim, merecer ser referência para a sociedade que muitas coisas acabam se tornando uma. São pequenos detalhes aos quais não estamos muito atentos e que acabam, muitas vezes, passando despercebidos no nosso dia a dia, mas que merecem uma maior atenção, pois podem trazer consequências desagradáveis dentro de poucos anos, visto que de alguma forma refletirão no nosso futuro não muito distante.

Se prestarmos atenção aos nomes que mais se destacam entre os adolescentes na música brasileira hoje – cujas composições, por vezes monossilábicas, fazem referência quase sempre à mesma coisa –, por exemplo, iremos nos perguntar o que músicas desse tipo nos deixarão de bom? O que aprenderemos com elas? Ou então, se repararmos nos ídolos de muitos do tão popular futebol: jogadores que possuem inúmeros admiradores devido ao esporte, mas que são constantemente noticiados na mídia em escândalos, noitadas, farras e, dessa forma, têm a imagem associada a valores que talvez não sejam os melhores para seus fãs terem como exemplo.

Ainda nesse contexto de influência midiática, é fácil percebermos o quanto ficamos abalados e comovidos com desastres naturais (terremotos, tsunamis, deslizamentos de terra etc) que ganham grandes manchetes nos noticiários, demonstrando solidariedade para com as vítimas – ou "pseudo-solidariedade", que, na maioria das vezes, manifesta-se apenas no ato de compartilhar publicações referentes ao ocorrido no Facebook e nenhum outro além desse. Ao mesmo tempo, ignoramos constantemente crianças pedindo ajuda nas ruas, vivendo em péssimas condições e/ou morrendo de fome. Tratadas como se fossem coisas banais, essas situações acontecem com muita frequência e, por isso, acabam se tornando problemas ultrapassados e pouco reconhecidos pela sociedade, fruto da falsa ideia criada de que só merecem atenção problemas que causam grandes estragos e são bastante noticiados. O que nos leva a questionar o nosso conceito acerca do que é uma catástrofe ou não, e até mesmo a questionar o nosso conceito de solidariedade.

Somos uma geração constantemente julgada por não agirmos como agiam os jovens das décadas de 60/70, por exemplo. Julgados por não nos revoltarmos, não lutarmos por nossos interesses como estes faziam. Entretanto, se analisarmos o contexto histórico em que viviam, no caso, a Ditadura Militar, podemos encontrar referências, como alguns artistas, que buscavam se expressar de forma a se opor ao regime opressor, o que dava forças à juventude para lutar também. À época, esses artistas foram impulsionados pelos absurdos da situação e pela necessidade de se fazer algo para mudar, afinal, foram tempos difíceis. Atualmente, por vivermos em um tempo considerado "melhor", no qual somos livres para nos expressarmos, manifestações como as ocorridas anteriormente perderam espaço, por serem problemas menos evidentes, mas que deveriam receber igual atenção. Problemas relacionados ao meio ambiente ou à fome e à miséria que assolam uma boa parte da população mundial, por exemplo, não causam tantas revoltas quanto a censura causava. Sendo assim, as referências que temos nesses aspectos são em quantidade bastante reduzida.

Trazendo para mais perto do nosso dia a dia, hoje, convivemos com a ausência constante dos nossos pais devido ao trabalho, e, consequentemente, sobra menos tempo para que eles cuidem da educação dos filhos, para observarem com quem estes se relacionam e com quais atividades se ocupam. O resultado disso acaba sendo a acumulação de imensas fortunas materiais, sem que se dê muita importância ao legado moral e/ou intelectual que estão deixando, esquecendo que esse seria o melhor legado que poderíamos receber.


Essas são, não as únicas, mas as principais – e talvez as mais fortes –, referências que a maioria de nós temos, mais ainda para aqueles jovens que não têm acesso à outra fonte de informação além da televisão. Falo isso como uma adolescente, estudante, que um dia se tornará adulta ou não e, como qualquer outro, tem planos e dúvidas referentes ao futuro. E que, em meio a estas, se pergunta que tipo de influência haverá para as próximas gerações e o que refletirá dos referenciais atuais. Sabendo que as referências citadas anteriormente não são as únicas existentes, podemos nos preocupar, pelo menos, em ficar mais atentos àquelas que provavelmente nos trarão mais benefícios futuramente.

Fonte das imagens (respectivamente): Fábrica de Filosofia e Depósito de Tirinhas.

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