Regresso?


É muito comum associarmos juventude à rebeldia. Ou pelo menos é normal esperarmos dos jovens que eles se inquietem com os padrões estabelecidos pela sociedade e que, consequentemente, anseiem por mudança. Isso era, pelo menos, o que estávamos acostumados a esperar dos jovens das décadas de 50 e 60, por exemplo. Costumávamos sentir deles uma grande determinação e necessidade de abolir a ordem natural e positiva das coisas. Tais jovens desejavam este perfeito igualitarismo e o fim de todas as inibições de tal forma que procuravam obtê-los através de revoluções, como fizeram os jovens, grande maioria parisienses, em maio de 1968 na Revolução Cultural de Sorbonne, cujo lema era "é proibido proibir".

Se olharmos para a juventude após essa revolução, mais precisamente a juventude pós-moderna, e a compararmos com a das décadas passadas, podemos afirmar que a Revolução de Sorbonne realmente modificou os costumes, hábitos e modos de ser dos jovens. Nesse sentido, podemos perceber neles vestimentas mais extravagantes, e até "imorais", e o uso de um palavreado mais adulterado.Contudo, parece que essas mudanças param por aí. Se olharmos com um olhar mais aprofundado, o que realmente se percebe é que a forma de pensar desses jovens parece ter sofrido um "revertério" e os antigos ideais foram substituídos por ideais cada vez mais conservadores. Fazendo, portanto, com que a revolução pareça ter tido um resultado completamente oposto ao desejado.

Um bom exemplo desse aumento de conservadorismo é o resultado de uma pesquisa feita pela Universidade Federal de Pernambuco, na qual 600 jovens, na faixa de 22 anos, foram questionados sobre a questão das drogas e do aborto. Desses 600, 76% foram contra o aborto e 81% foram contra a legalização da maconha. Esses dados só me levam a concluir que esta nova juventude está sendo moldada pelo medo e se deixando moldar pelos padrões. Eles não sentem mais o menor interesse em passar por experiências diversas, uma simples estabilidade financeira já é o bastante para lhes proporcionar uma vida plena. E isso é tudo o que eles esperam do futuro.

Dito isso, parece que estamos regredindo à Idade Média, na qual os jovens parecem apoiar um líder religioso quando ele afirma que a mulher deve ser submissa ao homem, que sexo com camisinha é pecado pois não tem como fim a procriação e tenta demonstrar que a vida tem início no ato do encontro do espermatozoide com o óvulo para tornar a liberação de pesquisas científicas com embriões adultos inviáveis; na qual os jovens parecem apoiar cada vez mais o fim do reinado da razão, supostamente monopolizada por cientistas, e na qual esses líderes religiosos, além de pregarem suas ideias em seus "templos do saber", são apoiados a pregar as suas sabedorias também na política, usando seus argumentos religiosos para se elegerem.

Basta analisar direito para chegar a essa conclusão. Se um beijo entre um casal homossexual, por exemplo, costuma atingir profundamente a sociedade, chegando a ser um absurdo, o que se pode observar hoje é que, para muitos jovens, esse casal não precisa mais ser necessariamente um casal homoafetivo. Uma simples demonstração de afeto, seja qual for o tipo de casal, já é o bastante para causar-lhes choque. Digo isso porque já fui vítima de muitas críticas por demonstrar afetos em público e, assustadoramente, vindas de jovens também. No fim, parece que eles sentem falta do namoro de mãos dadas.

Isso, para muitas pessoas, inclusive especialistas, significa que temos uma juventude mais preocupada e responsável e que, afinal, esse conservadorismo todo faz até bem para ela. No entanto, para mim, é simplesmente lamentável porque, enfim, como pode ser favorável uma juventude que defenda os tempos de ditadura como melhores? Como pode uma simples demonstração de afeto ser tão mal vista? Ou então como pode uma juventude que ache que a culpa de um estupro acontecer é da estuprada por usar roupas curtas demais, ser favorável?

Fonte da imagem: Depósito de Tirinhas.

2 comments:

  1. Boas idéias, ângulos de vista cifrados e consistentes, sem dúvida. Boa. H. B.

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  2. Muito obrigada, H.B., fico grata que tenhas gostado.

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