Onde estão as nossas crianças?


Esconde-esconde, pega-pega, bandeirinha, telefone sem fio, bolinhas de gude, jogos de tabuleiro: com certeza, alguma dessas brincadeiras deve lhe ter feito voltar no passado em alguma lembrança de infância. A vontade de ficar até tarde na rua brincando e a mãe gritando e mandando entrar porque já está na hora, os machucados nos braços e pernas que ficaram marcados durante um bom tempo (antes mesmo que as antigas marcas melhorassem já haviam novas), as subidas nas árvores... Tantas lembranças, algumas boas e outras nem tanto. Toda essa nostalgia só nos leva a uma pergunta: onde estão as nossas crianças de hoje? Estão no jardim brincando com lama e sujando toda a casa? Estão escalando árvores e se machucando por ai? Ou estão dentro de casa brincando com seus tablets, computadores e videogames?

Em toda reunião de família, uma das coisas que mais me chamam a atenção é a forma como as crianças se divertem atualmente: um quarto fechado, ar condicionado ligado, aparelhos eletrônicos para cada um e todos interligados em um mesmo jogo se divertindo virtualmente. Parece interessante, não? Talvez. Mas até que ponto podemos aceitar esse comportamento das crianças? Até que ponto as tecnologias podem influenciar a vida de cada um? Para responder a essas questões, devemos levar alguns pontos em consideração: a interação social, o rendimento escolar e a saúde de cada criança. 

Hoje em dia, muitas crianças preferem estar dentro de suas casas, evitam interagir com outras pessoas e até se sentem melhor isoladas do que em contato com o mundo afora. Ora, para quê sair da minha casa segura, quentinha, limpinha se eu tenho tudo o que preciso aqui? Uma televisão a cabo com todos os canais de desenhos possíveis, um computador e um tablet com os jogos do momento, não corro o risco de me sujar de lama, entrar em contato com insetos etc. Certo? Errado. Tudo bem, há uma comodidade sem igual dentro de casa, mas, no futuro, as consequências podem ser diversas. Imaginem como essa criança que se isola do mundo irá ser quando crescer? Não falo de todas, claro, mas há uma grande chance de vir a ser um adulto problemático, principalmente devido a problemas psicológicos. Não saber como interagir, não saber como conversar, não ter coragem de arriscar na vida. Mas não só no futuro, ainda quando crianças esse comportamento pode ser prejudicial pelo fato de que se tornam mais vulneráveis aos ataques da mídia, a cultura de massa, o que é algo que afeta uma criança em todos os sentidos (saiba mais sobre essa influencia da mídia no texto "A publicidade, o consumo e a criança", do Bruno Miranda). 

Indo além, as tecnologias podem afetar, também, o rendimento escolar das crianças. Alguns, para melhor; outros, para pior. A escrita é um dos principais pontos afetados, visto que, para alguns, pelo fato de passar muito tempo em contato com aparelhos eletrônicos, o formato da letra está mudando, está cada vez mais parecida com letras de computadores, o típico formato Arial. Sem contar com os corretores automáticos e as abreviações: o famoso "escreve aí e se tiver errado o computador ajeita" - um erro tanto para crianças, adolescentes e adultos - e o "deixa de ser careta, estamos na internet e podemos escrever de qualquer jeito", que resulta em algo mais ou menos "oi, td bm?", "kd vc?", "tah d boua?". Mas nem tudo é ruim ao ponto de eliminar para sempre. Algumas crianças conseguem, a partir do contato tecnológico, ter melhorias em seu aprendizado, como a questão da leitura, entendimento e até o início da escrita. Claro que não deixando de lado o original: papel e caneta e os livros. 

O importante, para que nada possa sair dos trilhos, é não esquecer de estabelecer um limite entre as crianças e suas tecnologias. Afinal, além das consequências já citadas, os problemas de saúde causados por essa falta de limite podem ser inúmeros, como problemas visuais e auditivos. 

Não digo que a presença de tecnologia em massa na infância das crianças de hoje a tornem menos crianças que em tempos passados, apenas que é preciso saber lidar com essa nova era e tomar seus devidos cuidados. Mas admito que sinto falta de ver crianças correndo, pulando, escalando, achando que são super heróis e colocando sua imaginação em primeiro lugar. Planejo, futuramente, trabalhar em um projeto que possa trazer novas formas de divertimento para as crianças de hoje, algo que passe longe da influência da mídia e das tecnologias de plantão. Quem sabe algum dia possamos voltar a encontrar nossas crianças brincando fora de casa, na rua, no jardim ou até em cima de uma árvore.

Fonte da imagem: Grito das Cinco.

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