Recentemente, lendo as notícias sobre a retomada do julgamento do mensalão com a análise dos recursos dos réus condenados, li a seguinte afirmação do ministro Luís Roberto Barroso: “Não existe corrupção do PT, corrupção do PSDB, corrupção do PMDB. Existe corrupção. Não há corrupção melhor ou pior. Não há corrupção do bem. A corrupção é um mal em si e não deve ser politizada”. Essa afirmação me fez refletir sobre uns porquês: por que escolhemos um lado para defendermos e outro para criticarmos? Por que, quando vemos que ambos estão errados, argumentamos que “isso” é mais errado que “aquilo”? Afinal, o fato de algo ser “mais errado” faz com que o “menos errado” se torne o certo?
No nosso cotidiano, vemos vários temas que geram discussões como, por exemplo, o mensalão. Nessas discussões, criam-se "mocinhos" e "bandidos", os quais podem alternar entre si dependendo da pessoa que contará a estória, pois a maioria das pessoas escolherá um time que defenderá com todo fervor. No meio desse fervor, o respeito vai desvanecendo e o que deveria ser uma troca de ideias acaba por reduzir os envolvidos à barbárie. Como consequência dessas “discussões”, amigos se distanciam, inimigos se odeiam mais, desconhecidos começam a odiar desconhecidos...
Assim, surge uma dúvida: por que não conseguimos, na maioria das vezes, debater civilizadamente sobre assuntos considerados polêmicos? Em qualquer discussão que atinja as relações sociais há antagonismos – pessoas que irão concordar ou discordar de certas atitudes e/ou assuntos. Não que isso esteja errado, pelo contrário, vivemos em uma sociedade democrática, temos o direito de pensar e exprimir opiniões, mesmo que elas sejam contrárias a outras. Porém, não podemos ser autoritários e querermos que os outros concordem com nossas opiniões, assim como não podemos ser inflexíveis dizendo: “Minha opinião é essa, e ninguém irá mudá-la”.
O problema nessas discussões é que a maioria das pessoas não tem sensatez para ouvir/ler uma opinião que está em desacordo com a sua, muito menos para considerá-la como algo positivo para si. Muitos, também, não aceitam que a opinião do outro tenha argumentos válidos, porque, se assim fizer, estará demonstrando fraqueza e perdendo a “batalha”. Penso que quando entramos em uma discussão, o objetivo deveria ser o de enriquecer o conhecimento sobre tal assunto, e não o de uma disputa para ver quem irá vencer.
Vivemos em uma nova época, aquela do “mais forte sobrevive” já passou; hoje em dia, as pessoas prezam por resolver as desavenças através de diálogos, sem brigas. Não falo sobre isso como se nunca tivesse perdido a calma em alguma “discussão”, mas é através da observação de nossas atitudes e das atitudes dos outros que somos instigados a pensar e refletir sobre tais atitudes, que, às vezes, chegam a ser vergonhosas.
Enquanto nós não compreendermos que chegar a uma conciliação de opiniões é o que menos importa, mas, sim, termos a capacidade de manter um diálogo de ideias para que possamos adquirir algo dele sem que ocorram atos lastimáveis de alguma das partes ou de ambas, não chegaremos a lugar nenhum nessas discussões que mais parecem competições.
Fonte das imagens (respectivamente): Uol e Hypescience.
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