Você já ouviu falar do Butão?

Quando estava no último ano do Ensino Fundamental, apresentei um seminário sobre o Subcontinente Indiano - região formada por Índia, Paquistão, Bangladesh, Nepal, Butão, Sri Lanka e Maldivas - e, ao fazer o estudo para o seminário, fiquei fascinado por essa região. Que jovem, aliás, não fica fascinado ao ouvir histórias de lugares exóticos? Algumas semanas atrás, ao fazer uma visita ao site da National Geographic Brasil, eis que me aparece uma reportagem sobre o Butão, esse pequeno país localizado na Cordilheira do Himalaia.

O motivo de o Butão vir a ser foco de reportagem: em 2008, foram realizadas as primeiras eleições do país, que passou de uma monarquia absoluta para uma monarquia constitucional, como o Reino Unido. Entretanto, não ocorreu nenhuma revolução com fins de derrubar a monarquia, o rei - o quarto do país - abdicou ao trono, que foi ocupado pelo seu filho, e estabeleceu eleições para primeiro-ministro. O povo butanês, porém, não viu a democracia com olhos tão bons quanto o rei, eles acreditavam plenamente no seu antigo monarca.

Um povo que não simpatiza com a democracia, mas com o despotismo. Irônico, não é? Um verdadeiro tapa na cara do Mundo Ocidental, que viveu tantas revoluções sangrentas para conquistar a democracia. Essa 'novidade' novamente levantou minha curiosidade sobre esse país e me deu inspiração para conhecer mais sobre esse lugar fabuloso.

Mosteiro de Taktshang, um dos mais famosos do país.
Isolado por mais de mil anos e vizinho dos gigantes Índia e China, esse reino budista, cuja capital é Timphu, há pouco entra em contato com o mundo e segue o caminho da modernidade. Até os anos 60, o país não tinha estradas, eletricidade, correios, carros e telefones e figurava entre os países  com os maiores índices de analfabetismo, mortalidade infantil e pobreza. "Pagamos um preço alto [pela política de isolamento]", disse o quarto rei do Butão, Jigme Singye Wangchuck. O pai de Jigme Singye, o terceiro rei, foi o responsável por iniciar a modernização do país - empenhando-se para que fosse aceito na ONU -, construindo escolas, clínicas e uma estrada - a única que há no Butão até hoje e que cruza o país por inteiro. A nação foi a última do mundo a ter acesso à televisão, em 1999. No mesmo ano, chegou, aos poucos, a internet. Como diz o jornalista Brook Larmer, da National Geographic: "O país [Butão] está tentando o impossível: pular da Idade Média para o século XXI sem perder o equilíbrio".

Jigme Singye, além de receber a tradicional educação butanesa com os monges, foi educado na Inglaterra, onde teve contato com o mundo moderno. Ao assumir o trono, ele deu continuidade à política de modernização de seu pai. E foi mais além, criou um índice chamado FNB (Felicidade Nacional Bruta) - cujos indicadores são o desenvolvimento sustentável, o bom governo, a proteção ao meio ambiente e a preservação da cultura. No seu governo, a mortalidade infantil e o analfabetismo despencaram. O que o rei defende é: a Felicidade Nacional Bruta é mais importante que o Produto Interno Bruto. Afinal, de que adianta haver riqueza se não há felicidade?

"Quarto do mosteiro de Wangdi Phodrang. O monge Chencho, à esqueda, confessa sobre seu trabalho:
'Memorizar os textos é duro, mas depois temos uma vida confortável. No vilarejo, a labuta nunca termina'."
 
Perceba a geladeira da Coca-Cola ao fundo. 
Nesse país predominantemente agrário, cerca de três quartos de sua área é coberta por floresta protegida - uma das maiores porcentagens do mundo. Isso se deve pelo fato de que, no Butão, é cobrada uma taxa diária de permanência de 240 dólares para os turistas. Essa alta taxa evita uma grande entrada de turistas no país, ajudando assim na preservação das florestas butanesas e da paz dos moradores. Ademais, não apenas pela natureza destaca-se o Butão, outro ponto atrativo para os turistas são os belos monastérios budistas, construídos, em sua maioria, nas encostas das montanhas.

Curiosamente, em um marco histórico, o país foi o primeiro do mundo a banir a venda e consumo de cigarros, em 2004. Em 2006, o rei anunciou que renunciaria ao trono para instalar no país um regime democrático. Em 2008, foi eleito o (primeiro) primeiro-ministro e o trono foi assumido pelo filho mais velho do rei,  Jigme Khesar Namgyal Wangchuck. Jigme Khesar, agora quinto rei, é o governante mais jovem do mundo e dá continuidade ao legado de seu pai e de seu avô, modernizando o país sem permitir que a belíssima natureza himalaia seja devastada nem que a monocultura global elimine as suas tradições.

O rei Jigme Khesar Wangchuck presenteia o povo butanês no dia de sua coroação.
Essa é a realidade de uma nação que é, ao mesmo tempo, um dos países mais pobres e mais felizes do mundo. Será que nós, ocidentais, um dia conseguiremos construir um Estado como esse, cujo objetivo maior não é aumentar o lucro, mas a felicidade?

Fonte das imagens (respectivamente): Marcos Sá CorrêaFuja da Rotina e Vá Viajar! National Geographic Brasil.

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