Especial: Dia da Consciência Negra

Hoje, 20 de novembro, é o Dia da Consciência Negra. Ou Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, em termos oficiais. E nenhum tema tem mais a ver com o Fragmentos do que a discussão que essa data comemorativa promove. Diferentes e iguais a um só tempo, o conjunto de membros que formam este blog representam uma parte da enorme diversidade da sociedade brasileira. Por isso e pela importância socioeducativa desse dia, não poderíamos deixar de falar sobre a discriminação racial e a exclusão social praticadas por essa humanidade que não aprendeu a valorizar sua própria diversidade.

A construção e a apreensão de novos saberes impulsionam o processo de transformação psicológica, motora e cognitiva do ser humano, fundamentando nossas ações, que, por sua vez, tecem e são tecidas por nossa cultura. Sendo assim, (muito) ao contrário do que pensa o homofóbico J. R. Guzzo, articulista da decadente, desonesta, anencéfala, estúpida, antiética e reacionária revista Veja, as conquistas sociais e democráticas não são decorrentes do "avanço natural das sociedades no caminho da liberdade". São nossas ações, fundamentadas em nosso conhecimento e visão de mundo, que provocam quaisquer mudanças. Embora ajam diversos obstáculos e grandes limitações sociais, também produzidos por pessoas semelhantes e estranhas a nós, somos todos protagonistas de nossas histórias e, portanto, responsáveis por nossa sociedade (ou pelo que dela será).

Nesse sentido, se não conhecemos pelo menos a superfície dos acontecimentos e as lutas empreendidas por todo o mundo, podemos cair no lugar-comum da ignorância conservadora, aquela mesma que diz que, já que não existem raças biológicas, não há racismo no Brasil nem alhures. Ou que, em terra de dândis ilibados, não há discriminação racial, o que há são problemas de ordem exclusivamente socioeconômica. Ou ainda formulações aparentemente mais elaboradas como a do sociólogo Demétrio Magnoli (o herói da Globo, da Veja e de seu congênere "intelectual", o Instituto Millenium), que trabalha com a ideia de que existe racismo em nosso país – há algum tempo, dizia que era apenas uma invenção histórica –, mas que não existe uma difusão popular do problema, a qual, segundo ele, alcançará níveis estratosféricos com a implementação das cotas raciais nas universidades brasileiras e em certos concursos públicos, pois garantirá privilégios a grupos específicos da sociedade.

Será que o "racismo à moda brasileira" não está suficientemente difundido? Será que dizer que as cotas raciais institucionalizarão o preconceito e a discriminação, fazendo com que alcancem espaços ainda não "afetados" e comprometam a qualidade das instituições públicas de ensino superior, não denotam profundo desconhecimento da realidade educacional, inclusive de instituições onde cotas já entraram em vigor há alguns anos, e das condições em que a comunidade negra vive?

De fato, a discriminação racial no Brasil não apresenta determinadas características como a que é observada nos Estados Unidos, onde a causa negra ganhou repercussão internacional por meio das figuras de Martin Luther King, Malcom X e das ações abomináveis da Ku Klux Klan, grupo formado por brancos protestantes que praticava forte violência contra negros, católicos, judeus e imigrantes. Não temos, como nos EUA, por exemplo, greves em que os trabalhadores paralisam fábricas inteiras para impedir a contratação de negras e negros. No entanto, o pensamento obtuso desses "intelectuais" quer diminuir o impacto da violência da discriminação à brasileira ao não considerar a grande e negativa relevância das inúmeras piadas racistas; dos comentários depreciativos; da violência física; dos baixos salários, que são menores que os baixos salários da população branca; da repressão policial; da criminalização da cor da pele e da pobreza; do desrespeito à cultura e à propriedade das comunidades remanescentes de quilombos etc. Diante disso, ainda dizem que o movimento negro exige privilégios, não direitos iguais. 

Obviamente, a discussão sobre cotas raciais rende muito mais e é muito mais complexa do que isso, mas é importante ressaltar o seu papel no atual contexto do movimento negro brasileiro, que é o mais bem organizado e popularizado do gênero no país. Notamos, a partir dessas breves colocações, que ainda há muito a ser conhecido, e sempre haverá. Daí a importância de uma data comemorativa como o Dia da Consciência Negra.

Apesar da persistência da discriminação racial, muitas conquistas foram alcançadas no último século. As primeiras personagens negras do cinema, por exemplo, foram representadas durante as primeiras décadas do século XX apenas como vilões ou empregados. A discussão racial foi definitivamente introduzida no grande cinema americano apenas a partir das décadas de 1950 e 1960, quando filmes como Giant ("Assim Caminha a Humanidade", George Stevens) e To Kill a Mockingbird ("O Sol é para Todos", Robert Mulligan) fizeram sucesso nos Estados Unidos. Ainda eram produções que traziam protagonistas brancos, como Gregory Peck, Elizabeth Taylor, Rock Hudson e James Dean, colocando negros, indígenas e latinos como coadjuvantes de suas próprias vidas, vítimas inertes e incapazes de resistir ao preconceito e à discriminação, mas que já representavam um importante avanço na luta pela visibilidade e inclusão social das raças oprimidas.

Entretanto, essa não era uma exclusividade do cinema. Esse era o pensamento que fundamentava as reflexões desse período sobre as "minorias" sociais. Em contraposição a Gilberto Freyre, que destacava as relações harmoniosas entre senhores e escravos, historiadores da década de 1960 e 1970 enxergaram apenas o caráter perverso do sistema escravista e o poder de uns sobre outros, desvalorizando as diversas formas de resistência dos escravos e o seu protagonismo nas transformações sofridas pela sociedade brasileira. 

Negar seu protagonismo e a pressão social exercida por suas ações implica em dizer que o abolicionismo foi fruto apenas das poesias de Castro Alves e Luiz Gama, dos discursos de Joaquim Nabuco, da consciência ética das elites e da benevolência da princesa Isabel. Não podemos negar, portanto, que os negros estavam na linha de frente dessas mudanças e foram os principais responsáveis pela modificação de sua própria condição. São, pois, inteligentes e capazes. Diferentes e iguais aos outros. Isso é "consciência negra".

Com o objetivo de exaltar as origens africanas do Brasil, promover debates acerca da participação das negras e dos negros na construção do país, incitar discussões sobre formas de inclusão social e denunciar o racismo existente na sociedade brasileira, o Dia da Consciência Negra celebra o movimento de resistência dos escravos no passado colonial.
Até o início da década de 1970, o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial (MNU) preferia ressaltar a data da abolição oficial da escravidão como a principal comemoração afrodescendente do Brasil. No entanto, o dia 13 de maio infelizmente faz lembrar pouco além de um decreto imperial assinado por uma princesa bondosa. Nesse caso, o protagonismo combativo histórico dos escravos não passava de coadjuvante político e simbólico. Então, a partir da iniciativa do Grupo Palmares de Porto Alegre, a necessidade de uma representação personificada das resistências ao sistema escravista protagonizadas pelos próprios escravos foi ganhando repercussão e apoio por todo o país. Em 1978, o MNU assumiria, em congresso, a responsabilidade pela propaganda do Dia Nacional da Consciência Negra, a ser comemorado em 20 de novembro, em alusão ao ano de 1695, possível data da morte de Zumbi dos Palmares, verdadeiro e, de certa forma, contraditório mártir da resistência escrava. Heroicizado pela historiografia como líder de um suposto movimento de contestação à estrutura escravista e de defesa da liberdade negra e da justiça social, Zumbi carrega em sua inicial a letra "Z", que, no grego antigo, significa "ele está vivo". Decerto, politicamente está. 

Duas décadas depois, a data comemorativa começa a ser adotada como feriado municipal, como na capital fluminense a partir de 1999, e estadual, como no mesmo estado do Rio de Janeiro em 2002. Em 2003, Lula sancionou a lei nº 10.639, que, além de tornar obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira no ensino básico, incluiu o Dia Nacional da Consciência Negra no calendário escolar. Oito anos mais tarde, outra importante conquista do MNU, nesse sentido, foi alcançada a partir da lei nº 12.519, que instituiu, oficialmente, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra.


Com lembranças para o senador Mário Couto (PSDB-PA) e para a professora universitária Daniela Cordovil (UEPA), divulgamos os pensamentos e as ações das grandes figuras públicas que lutaram pelos direitos das negras e dos negros pelo mundo. Personagens que representam uma multidão que os ensinaram, seguiram e que com eles aprenderam... Com a palavra, os negros, heterossexuais, asiáticos, mulheres, gordos, lésbicas, ricos, brancos, gays, cabras, pobres e magros do Fragmentos:

  • Zumbi, por Alice Martins Morais:
Ficheiro:Zumbidospalmares.jpgA longa História de luta e superação negra no Brasil é praticamente esquecida. Exemplo disso é Zumbi dos Palmares. Zumbi tem uma data comemorativa feita por sua causa, é estudado nas escolas e, inclusive, tem uma praça e uma faculdade com seu nome, mas o "simples" detalhe de ser ele um negro faz com que seja uma figura esquecida não só pela população - poucos saberiam dizer quem foi ele -, mas também pelo calendário nacional - ou é pura coincidência o fato de a data comemorativa de Tiradentes, um branco, ser feriado nacional e a de Zumbi não?

Mas, enfim, quem foi ele? Zumbi dos Palmares foi como ficou conhecido o último dos líderes do Quilombo dos Palmares.  

Quilombos ou mocambos eram os principais refúgios dos escravos no Brasil Colonial, que abrigavam não apenas negros, mas também índios e brancos pobres. Palmares foi o mais famoso. Ele conseguiu derrotar tropas inimigas várias vezes e só foi destruído depois de aproximadamente 100 anos de duração, com a morte do Zumbi. Localizava-se na atual região de União dos Palmares, Alagoas, e ocupava uma área próxima ao tamanho de Portugal. No final, abrigava cerca de 30.000 pessoas. Foi lá que o clímax da História do Zumbi aconteceu.

Ele nasceu em Palmares mesmo. Nasceu livre, em 1655, mas quando tinha por volta de seis anos, foi capturado e entregue a um missionário, tornando-se escravo. Então, recebeu os sacramentos, aprendeu português e latim e praticava serviços a Igreja, sendo, até mesmo, batizado com o nome de Francisco.

Apesar de toda essa "aculturação", ele escapou com quinze anos e retornou ao seu local de origem. Conhecido pela esperteza e habilidade, usou seu nome original, Zumbi, para ser seu nome de guerra e, aos vinte anos, já era uma figura militar respeitável.

Na época, não faltaram ataques a Palmares e, depois de resistir bravamente na liderança por décadas, a capital de Palmares foi destruída. Zumbi resistiu, mas foi traído, capturado e morto quase dois anos após a batalha, em 1695. Sua cabeça foi cortada, salgada e levada ao então governador Melo e Castro. Mesmo assim, continuava a correr a lenda de Zumbi ser imortal, eterno. Para contradizer esse mito, sua cabeça foi exposta em praça pública.

Mais de 300 anos depois, sua História foi resgatada e se escolheu a data de 20 de novembro para ser o Dia Nacional da Consciência Negra, o mesmo dia em que Zumbi, Rei dos Palmares e símbolo de resistência negra, morreu.
    

Fonte da imagem: Wikipédia.

  • Rosa Parks, por Jean Sato:
Um pequeno gesto que deu o pontapé inicial a um grande movimento, isso foi o que aconteceu no dia 1 de dezembro de 1955 em Montgomery, estado do Alabama (EUA). Rosa Louise MacCauley, ou ainda Rosa Parks, como era conhecida, nasceu em 1913 na pequena cidade de Tuskegee e foi quem executou esse gesto: recusou-se a ceder o seu lugar no ônibus para um passageiro branco, um marco histórico em uma época onde a segregação racial era oficializada por lei. Por esse motivo, Rosa foi presa e multada por infringir a lei, mas não foi em vão, como disse anteriormente, foi o pontapé inicial a um grande movimento: o boicote aos ônibus de Montgomery, que teve como intuito se opor à política de segregação racial vigente no transporte público da cidade. 

Liderado por Martin Luther King, o movimento causou grandes prejuízos no sistema de transporte público de Montgomery, tendo durado 381 dias e causado uma grande reviravolta na História do país e no mundo todo.

Rosa precisou enfrentar vários problemas, ameaças de morte, desemprego e humilhações, entretanto, em 1957, Rosa e seu marido Raymond se mudaram para Detroit, onde foi considerada uma heroína e símbolo do movimento moderno pelos direitos civis. Fazia parte da NAACP (National Association for the Advancement of Colored People), que é uma instituição que luta a favor dos direitos civis dos negros.

Após a morte de seu marido, em 1977, Rosa fundou o Instituto de Auto-Desenvolvimento Rosa e Raymond Parks. Esse instituto patrocina um programa de verão anual para adolescentes chamado "Veredas da Liberdade". Os jovens fazem um tour pelo país, em ônibus, sob supervisão de adultos, aprendendo a História do Estados Unidos e do movimento dos direitos civis.

Em 1999, Rosa recebeu das mãos do então presidente Bill Clinton a mais alta honraria oficial concedida pelo governo a um civil norte-americano, a Medalha de Ouro do Congresso. Além dessa, ela também foi premiada com a Medalha Presidencial pela Liberdade, em 1996, e, em 2000, foi inaugurado um museu com seu nome em Montgomery. Rosa morreu no ano de 2005, em Detroit.
  
Fonte da imagem: Wikipédia.

  • Abdias do Nascimento, por Oton Luna:
O movimento negro organizado é conhecido no Brasil principalmente a partir da década de 1970, quando o Movimento Negro Contra a Discriminação Racial foi fundado. No entanto, grandes nomes que participaram de sua fundação já construíam essa luta desde o período varguista. Influenciado pelo debate nacionalista entre modernismo e integralismo, Abdias do Nascimento é o maior nome brasileiro da contemporaneidade quando pensamos na luta pela inclusão social do negro e contra a discriminação racial.

Nascido no interior paulista em 1914, ganhou repercussão internacional pela contundência de seus discursos e pelas diversas manifestações de sua militância política, mas, assim como Zumbi, ainda não é amplamente conhecido em seu próprio país de origem, mesmo depois de sua lamentada morte, em maio do ano passado. Economista, escritor, poeta, deputado federal, senador, ator e diretor teatral, Abdias exerceu sua militância a partir da resistência cultural e da produção artística protagonizada por artistas negros.

Além de colaborar com a Frente Negra Brasileira (FNB), a primeira organização política do início do século passado que obteve alcance nacional na luta pela causa negra, fundou a Santa Hermandad Orquídea, grupo de poetas argentinos e brasileiros que percorreu, a partir do Amazonas, boa parte da América do Sul. Em uma dessas viagens, assistiu a um espetáculo na capital peruana em que um personagem negro, o protagonista, era representado por um ator branco pintado de preto. Motivo de raiva e agitação política, Abdias enxergou nessa apresentação a forma como os ocidentais percebem a participação e o lugar social do negro na sociedade, tido como incapaz e mero coadjuvante, como o que foi apresentado na introdução deste especial.

Depois desse encontro com a nitidez da face mais cruel do racismo, a exclusão social e cultural do negro, Abdias do Nascimento voltou para o Brasil com a decisão de criar um espaço em que a comunidade negra pudesse se reconhecer cultural e artisticamente no palco do teatro e, consequentemente, no palco da vida em sociedade. Um espaço teatral formado por artistas negros que não se limitavam à discussão sobre a discriminação racial, mas que iam muito além. Interpretavam variadas peças teatrais como as de Shakespeare e Eugene O’Neill. Afinal, quantas negras e negros existiam no Peru ou no Brasil nesse período? Será que situações como essa aconteciam devido à falta de atores negros? Além de Lázaro Ramos, temos muitos atores negros famosos no Brasil atualmente? Num momento em que o Grande Otelo surgia para o cinema nacional, o chamado Teatro Experimental do Negro, fundado em 1944 por Abdias, buscava preencher essa terrível lacuna de forma ainda mais intensa e representativa do que nos filmes.
   
Fonte da imagem: Scielo.

  • Nelson Mandela, por Bruno Miranda:
O jovem Nelson Rolihlahla Mandela nasceu em 1918 em uma África do Sul livre, mas fortemente marcada pelo imperialismo europeu. Nesse país, os indianos, mestiços e negros eram privados de uma série de direitos sociais, econômicos e políticos. Para piorar, essa desigualdade foi institucionalizada em 1948, com o chamado regime do apartheid (palavra que significa 'vidas separadas'). Durante a vigência desse regime, as escolas, hospitais, meios de transporte e espaços de lazer dos negros e dos brancos eram separados (separação essa que sempre privilegiava os brancos); os negros não podiam ocupar cargos públicos; e a essa parcela da população era relegada a condição de viver nos bantustões, bairros periféricos sem infraestrutura adequada e acesso a serviços públicos básicos.

Vindo de linhagem tribal nobre, Mandela teve a oportunidade de frequentar a escola. Seus estudos o levaram até a universidade, onde tornou-se bacharel em Direito.  Dentro da universidade, envolveu-se com o movimento estudantil e, posteriormente, com o Congresso Nacional Africano (CNA), grupo que lutava contra o regime segregacionista vigente no país. Em 1955, tomando frente no Congresso do Povo, Mandela divulgou a Carta da Liberdade, documento que continha os pontos vitais da luta contra o apartheid e que representava a oficialização da indignação dos negros com o regime.

Depois de vários anos de resistência pacífica contra o governo sul-africano, Nelson decidiu aderir à luta armada após o Massacre de Sharpeville, em 1960, no qual a polícia matou 69 manifestantes negros e feriu outros 180. Ele, então, fundou o braço armado do CNA conhecido como 'Lança da Nação', grupo que coordenou sabotagens a alvos militares e que incentivava greves contra empresas as quais os donos era favoráveis ao apartheid. Após dois anos de luta, em 1962, Nelson foi preso e, dois anos depois, condenado à prisão perpétua.

Durante os 27 anos nos quais ficou preso, Mandela recusou a revisão da pena para liberdade condicional em troca de abandonar a luta contra o regime e acabou se tornando um ícone da luta pelos direitos civis dos negros. Seu caso ganhou repercussão internacional e a frase "Libertem Nelson Mandela" se tornou o lema de muitas manifestações antirracistas mundo afora.

Em 1990, depois de forte campanha da CNA e pressão internacional, Nelson foi libertado pelo governo conciliador do presidente Frederik de Klerk, que deu início ao fim do apartheid. Pela sua luta, Nelson e Frederik dividiram o Prêmio Nobel da Paz em 1993.

Em 1994, Mandela foi eleito, na primeira eleição multirracial do país, o primeiro presidente negro da África do Sul. Durante seu mandato, ele cuidou de realizar uma transição pacífica do país em direção a uma verdadeira democracia, tendo como grande impasse a oposição de uma sociedade historicamente dividida e extremamente racista.

Hoje, afastado da vida política, Nelson Mandela é considerado uma lenda viva da luta pelos direitos dos negros e, atualmente, está engajado no luta contra a AIDS, mal que acomete uma parte considerável da população de seu país. Sua importância é tamanha que a ONU declarou o dia 18 de julho, sua data de nascimento, como Dia Internacional Nelson Mandela.
  
Fonte da imagem: Nelson Mandela Online.

  • Martin Luther King, por Romulo Ferreira:
Martin Luther King Jr. nasceu em 1929 e sempre foi um aluno acima da média, sendo que aos 25 anos já era pastor da Igreja Batista e doutor em Filosofia. Martin começou a se envolver diretamente com a defesa dos direitos civis a partir da organização do boicote aos ônibus de Montgomery (1955), ato esse que durou pouco mais de um ano e foi influenciado pelo fato de Rosa Parks ter se recusado a dar seu assento no ônibus para um passageiro branco, boicote só terminou quando a Suprema Corte Americana tornou ilegal a discriminação racial no transporte público.

Luther buscava lutar pelos direitos dos negros através do ativismo não violento, movimento esse influenciado pela filosofia de Gandhi, tendo King, inclusive, visitado a Índia e conhecido Mahatma Gandhi pessoalmente, voltando de lá ainda mais convicto de que a resistência pacífica era a melhor maneira de reivindicação de direitos e justiça pelos mais oprimidos.

Por fim, Martin fundou a SCLC (Southern Christian Leadership Conference) - organização responsável por diversos atos de ativismo em torno da questão dos direitos civis – e foi contrário à participação dos EUA na guerra do Vietnã, além de, juntamente com a SCLC, organizar a Campanha dos Pobres, a qual buscava ajuda para a população mais carente do país. King ganhou em 1964 o Prêmio Nobel da Paz por conta de seus atos. Todavia, ele também era odiado pelos segregacionistas e, por conta disso, foi assassinado em 4 de abril de 1968. Martin ainda foi condecorado diversas vezes após sua morte, recebendo inclusive a Medalha Presidencial da Liberdade em 1977. 

Em 1986, em sua homenagem, foi decretado feriado nacional nos Estados Unidos o Dia de Martin Luther King. Eis uma de suas frases mais conhecidas e significantes: "Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados pelo caráter, e não pela cor da pele."
 
Fonte da imagem: Marakutices.

  • Ruby Bridges, Joanne Ferreira:
Ruby Bridges nasceu em 1954, em Nova Orleans, ano em que a Suprema Corte dos EUA decretou o fim do "separados, mas iguais" na educação das crianças afro-americanas, ou seja, as crianças negras deveriam, a partir dessa data, ser inseridas nas escolas públicas dos brancos. Essa inserção seria dada através de um teste (que, na verdade, foi feito de uma forma para que essas crianças negras não conseguissem passar) em que as crianças seriam selecionadas e inseridas primeiramente no Jardim de Infância, de forma a integrar os negros à escola um ano escolar por vez.

Mesmo ciente das dificuldades que enfrentariam, quando Ruby tinha apenas 6 anos, sua família decidiu inscrevê-la, na escola William Frantz, na qual ela seria a única criança negra. Felizmente, Ruby conseguiu se destacar intelectualmente e ser aprovada no teste. Porém, teve que ir à escola escoltada por quatro agentes federais todos os dias, devido à polícia local se recusar a defendê-la.

Apesar de estar escoltada, Ruby teve que enfrentar uma multidão de mães e filhos enraivecidos e ameaças de morte (uma mulher protestou com um caixão infantil coberto com uma camisola negra e outra ameaçou envenená-la), punhos cerrados e muita humilhação, fazendo com que a menina nunca lanchasse na escola, com que os seus pais fossem perseguidos e também com que o seu pai perdesse o emprego. Essas mães tiraram os seus filhos da escola com a afirmação de que só os colocariam de volta quando Ruby deixasse o local. Além disso, quase todas as professoras - exceto uma - recusaram-se a dar aulas na escola. Dessa forma, a menina foi a única criança da sua série a receber aulas durante aproximadamente um ano.

Esse acontecimento, no entanto, não foi marcado apenas por maus exemplos: a comunidade negra, composta também por alguns integrantes brancos contra o racismo, tentaram ajudar a família Bridge. Eles conseguiram um novo emprego para o pai de Ruby e, em protesto, algumas famílias brancas continuaram a enviar os seus filhos ao William Frantz Elementary School.

Em vista do exposto, o que chama a atenção é o fato de que, mesmo tendo apenas 6 anos de idade, Ruby tinha uma visão de mundo muito diferente, visão essa que continua faltando no século XXI, e mostrou a toda a nação como realizar esse sonho. Dessa forma, Ruby agiu como líder e demonstrou o tipo de atitude exemplar sendo, hoje em dia, presidente da Fundação Ruby Bridges, criada em 1999, que, além de combater o racismo, promove a inclusão social.

Por fim, para saber mais sobre o caso de Ruby Bridges, você pode assistir ao filme "Ruby Bridges – Uma menina luta por seus direitos", produzido nos EUA em 1998, e ler o livro "Through My Eyes", escrito pela própria Ruby.
   
Fonte da imagem: Tumblr.

3 comments:

  1. Muito interessante, porém muito extenso e cansativo. A última história, da menina Ruby Bridges, eu não conhecia e achei bem relevante mostra-la. Já estou procurando o filme para baixar, e espero não me decepcionar. Abraços à equipe, Laryssa Lameira.

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  2. Parabéns pelos textos! É muito importante que essa data nunca passe em branco. Não podemos esquecer dos nossos heróis que lutaram tanto pelo fim do racismo a ponto de morrerem pela causa. E vocês, jovens do Fragmentos, mais uma vez, parabéns! Rosíria Reis

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  3. Muito bom! Fiquei emocionada com o texto de introdução. Parabéns a todos! Victória Reis

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