O blues de Hugh Laurie

Hugh Laurie é conhecido principalmente por ter interpretado o inesquecível Dr. Gregory House, protagonista da série que leva o sobrenome deste. Em alguns episódios do seriado, é possível notar que, além dos diagnósticos desafiadores, a música também é uma das paixões do personagem, que ocasionalmente pode ser até visto tocando guitarra ou piano. No entanto, um fato que nem todos conhecem é que Hugh Laurie, o ator, possui essa mesma paixão na vida real e, além disso, também é um talentoso músico que, em 2011, lançou seu primeiro álbum.

Levando em consideração que o CD já completou dois anos, não se trata exatamente de uma novidade. Porém, insisto em escrever este texto sobre esse assunto porque percebi que poucas pessoas conhecem o lado musical de Laurie. Talvez esta notícia possa chocar algumas pessoas - assim como aconteceu comigo -, principalmente devido a sonoridade da voz de Hugh ser um tanto “esquisita”. Ele é uma das pessoas que, quando alguém o ouve falando, nunca imagina que poderia ser um bom cantor, tampouco a ponto de lançar um ótimo álbum. Mas uma coisa é verdade: deu certo. E assim surgiu Let Them Talk.

O que aprendi com as trabalhadoras domésticas

Há aproximadamente um mês, três trabalhadoras domésticas que estavam retornando aos estudos após anos de intervalo procuraram meus serviços em busca de aulas particulares de introdução aos estudos da língua portuguesa e da produção textual. Sem titubear, motivado pela importância que eu poderia representar na retomada do percurso escolar daquelas que sempre estiveram presente em minha vida tão classe média, aceitei a proposta. Talvez tenha sido um ponto de partida desafiante para quem ainda não tinha nenhuma experiência mais séria como professor, mas, encarado com imensa responsabilidade, esse trabalho já me proporcionou, como professor em formação, verdadeiros “saltos qualitativos”. Espero sinceramente que as mulheres que estudam comigo estejam aprendendo tanto quanto eu com elas. 

O objetivo deste texto não é, como pode ter parecido, debater questões pedagógicas relacionadas à “educação para jovens e adultos” nem demonstrar como professores podem aprender tanto (e ensinar ainda melhor) a partir de um contato mais dialógico com suas alunas e alunos. Isso, porém, estará evidente nos parágrafos seguintes. Meu objetivo é trazer para o conhecimento dos leitores as principais questões levantadas num dos debates mais interessantes que já tive a honra de participar. Numa de nossas últimas aulas, realizamos a leitura de um texto publicado no blog do cientista político Leonardo Sakamoto e colocamos em discussão a  Emenda Constitucional (EC) nº 72/2013, aprovada pelo Congresso a partir da Proposta de Emenda à Constituição nº 66/2012, a chamada "PEC das Domésticas". O mais instigante foi que todas participaram ativamente do debate, contribuindo com reflexões interessantíssimas, já que possuem amplo conhecimento prático acerca de suas condições.

Adeus aos serviços postais?

Novo! Lançamento! Atualize-se! Essas e mais outras expressões estão constantemente no nosso cotidiano, nos persuadindo para nos mantermos "modernos" diante de um mundo que depende cada vez mais da tecnologia nas relações profissionais e, sobretudo, nas relações sociais.

Falso patriotismo

“Seu carro é americano,
Seu queijo é holandês,
Seu azeite vem da Espanha,
O seu vinho é português,
Dentro do seu palacete só se fala inglês.”
Falso Patriota – Geraldo Pereira

Em um belo dia de trabalho lá estava eu, tranquilo e fazendo meu serviço, até que ouço a conversa de duas pessoas: um dos indivíduos estava falando mal da Seleção Brasileira de Futebol e o outro criticando-o porque se deve, acima de tudo, ter amor à nossa pátria. Ah, quantas vezes já não ouvi isso... “Seja patriota”.

Nunca morei em nenhum outro país, portanto não sei como é o “amor pela pátria” por lá, mas aqui, no Brasil, as pessoas têm o costume de se acharem patriotas ao extremo, mas, na maioria dos casos, tudo não passa de pura hipocrisia. Por quê? Simples, se você se acha patriota apenas por torcer fervorosamente para uma seleção esportiva, parabéns! Zeus está lá no Olimpo rindo às suas custas enquanto você declara no Facebook que o Brasil é um país de merda e que você sonha morar em Paris.

O incrível Gordon-Levitt

Não seria incrível se a Meryl Streep tivesse uma versão masculina? Bom, é assim que eu vejo Joseph Gordon-Levitt, o norte-americano que torna qualquer filme interessante.

Conheci Gordon-Levitt quando ele tinha 15 anos, na série 3rd Rock from The Sun. A sitcom conta a história de quatro alienígenas que vêm a Terra com uma missão e se disfarçam como uma família, os Solomon, na qual o garoto era o "filho", Tommy Solomon. Quem via a atuação impecável e totalmente profissional do adolescente já podia imaginar que ele iria longe, mas, eu pessoalmente, não sabia o quanto.

Ainda na série, Gordon-Levitt começou a fazer mais sucesso nas telonas, com destaque para a comédia juvenil 10 coisas que eu odeio em você, baseada na peça "A Megera Domada" de Shakespeare, na qual tinha o papel principal. Quando 3rd Rock from The Sun terminou, em 2001, ele começou a trabalhar com filmes considerados alternativos, o que fez com que ficasse meio "apagado" na mídia, como o muito bem recebido Brick, no qual interpreta um jovem em meio ao mundo das drogas durante a investigação de um homicídio.

É democrático ser antidemocrático?

Nas últimas semanas, acompanhamos as lamentáveis declarações de Joelma em entrevista concedida à revista Época. Em meio a um contexto de ascensão do "religiosismo" conservador de determinados setores do cristianismo brasileiro, representados na pessoa do intragável pastor Marco Feliciano, a cantora da Banda Calypso incitou tanto protestos progressistas quanto confusas defesas reacionárias. Não sei se a direita política nalgum momento já soube argumentar de forma razoavelmente coerente, sem atropelar os supostos interesses democráticos presentes mesmo em seu débil discurso – ainda mais débil do que suas ações –, mas desta vez conseguiram superar inclusive os limites de sua ignorância e de sua retórica capciosa.

O capital

Sou acadêmico de engenharia de produção, curso no qual são ensinados meios de otimizar a produção de qualquer empresa (ou seja, produzir mais com menos), e por empresa entenda qualquer tipo de negócio, de uma multinacional ao mercadinho da esquina, para assim obter-se mais lucro, é claro. Como um professor meu já disse em sala de aula, esse é, provavelmente, o curso mais capitalista que existe. Até ai, tudo bem, eu acho.

Mesmo entre aulas mal assistidas, respostas copiadas e seminários improvisados, posso afirmar que aprendi muitas coisas sobre o mundo ao meu redor e como ele funciona movido pelo capitalismo. Por exemplo, ao entrar em uma loja, presto atenção na organização e no preço dos produtos, na abordagem feita pelos funcionários etc, comerciais também me levam a refletir “será que todo dentista é bonito e branco?” ou “eu nunca vi garçonetes desse jeito!”, entre outras coisas.

O cinema francês do século XXI

A produção cinematográfica francesa durante o início do século XXI parecia estar passando por crises, tendo cortes nos patrocínios. Apesar disso, o período produziu grandes obras e alguns dos seus mais bem sucedidos filmes, tanto para o mercado doméstico quanto para o mercado internacional. Os filmes produzidos na época possuem natureza eclética, por exemplo, o diretor Laurent Cantet foi da investigação sobre as turistas sexuais no Haiti no filme Em direção ao Sul (2005) ao incrível drama Entre os muros da escola (2008). 

Grande parte das produções da década que obtiveram sucesso internacional envolveu o cineturismo¸ mostrando clichês sobre as características dos franceses. O grande marco dessa tradição foi O fabuloso destino de Amélie Poulain (2001). Outra marcante produção francesa foi a biografia da ilustre cantora Edith Piaf, intitulada Piaf – Um hino de amor (2007). Forasteiros que chegaram para trabalhar na França ofereceram uma perspectiva diferente: por exemplo, Michael Haneke (mesmo diretor de Amour) trouxe um olhar diferente sobre a História colonial da França em Caché (2005). 

Cegos



A sociedade sofreu e continua sofrendo diversas mudanças ao longo dos anos - mudanças essas que vão desde as ciências até a mentalidade das pessoas. Entretanto, apesar de toda a mudança, ainda existem indivíduos que mantêm ideias ultrapassadas e detestáveis. Exemplos disso são todas as formas de preconceito existentes. 

Nós vivemos em meio a regras, convenções e valores que, em muitos âmbitos, mudaram e evoluíram. O preconceito, em sua maioria, é fruto da ignorância de pessoas que ainda cultuam esse tipo de atitude – que hoje é considerada obsoleta. Sentir-se superior a alguém por possuir uma determinada cor, cultura ou costumes é ser extremamente ignorante e imoral. É frustrante pensar que, mesmo sendo uma minoria, existem indivíduos que pensam assim. Não é preciso refletir muito para perceber que, de certa forma, essas pessoas são "cegas", pois não conseguem ver que todas as pessoas são iguais, não importando a sua etnia, religião ou orientação sexual. 

De criança para criança

Desde o despertar de sua consciência, ela vivia em crise. Perguntava-se sobre o mundo, a vida, o estudo, a miséria – que ela não presenciava, apenas ouvia falar – e tudo o mais.

Em casa, ao mesmo tempo em que era tratada como uma princesinha mimada, viam-na como uma espécie de aberração. Que menina mais esquisita, diziam, vive fazendo perguntas demais, músicas demais, nunca entende nada, parece até uma retardada. Estranho falarem isso de alguém que apenas queria entender as coisas, que apenas queria entender o mundo ao seu redor. Estranho. Mas era o que acontecia. E, cada vez mais, com maior frequência.

Na escola, era calada. Não que não tivesse perguntas a fazer por lá também. É que, lá, não tinha intimidade com as pessoas. Não sentia conforto e acolhimento suficientes para mostrar sua verdadeira personalidade, tão criticada pelos familiares. Ora, se até os meus pais acham que estou errada e que deveria parar com essas coisas, é porque realmente devo estar.

Qual o sentido da vida? Por que umas pessoas nascem ricas e outras pobres? Para que se casar, se as pessoas sempre se separam? Por que não posso ser feliz, se não comprar uma boneca da Estrela? Por que vejo meninas e meninos mais velhos se beijando, enquanto que nunca vi meus pais se beijarem – a não ser, é claro, aquela vez em que meu pai foi promovido. E o tio Jorge? Ele arranjou um namorado. Não entendo porque o expulsaram de casa. Será que é porque ele fica com essa mania de beijar os outros na boca e não faz como meus pais, que há anos não se beijam? Sei lá, beijar na boca deve ser errado. Logo se vê que os que mais beijam são os adolescentes, os que não têm nada na cabeça. Devo parar de tanto fazer perguntas? Acho que sim, nunca obterei respostas mesmo. Sou a única que se interessa por elas.

Brasil: um país de todos?

Dia 21 de setembro é o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, mas para muitos é uma data como qualquer outra – em parte pela falta de divulgação, portanto, desconhecimento do fato, e em parte porque às vezes, mesmo tendo conhecimento, não se compreende a real importância da luta dos portadores de necessidades especiais pelo respeito, pela aceitação e inclusão destes na sociedade brasileira, muito menos o quanto a ausência disso pode ser prejudicial a eles, às vezes até mais que a deficiência em si.

Pais e filhos


Quem nunca ouviu dos seus pais: "menino(a), já tá na hora de amadurecer e começar a se virar sozinho". Mas, por outro lado, quem também nunca ouviu: "mas filho(a), você ainda é meu bebê muito jovem pra isso!". Pois é, pois fique sabendo que você não está sozinho no mundo. E isso é mais estressante ainda quando ouvimos isso aos 18 anos, pois é a famosa fase de transição de uma criança quase sem responsabilidades para a fase adulta (ou quase adulta), até porque é nela que passamos por milhares de dúvidas internas. Sobre o que se passa dentro de nós, acho que a música I'm Eighteen, do Alice Cooper, traduz isso de uma forma quase perfeita:

"Sou um menino e sou um homem/ Tenho dezoito/ E eu não sei o que quero (...)
A mente de um bebê e o coração de um ancião/ Levou dezoito anos para chegar até aqui/
Nem sempre sei do que estou falando/ Parece que estou vivendo em meio a dúvidas"