A produção cinematográfica francesa durante o início do século XXI parecia estar passando por crises, tendo cortes nos patrocínios. Apesar disso, o período produziu grandes obras e alguns dos seus mais bem sucedidos filmes, tanto para o mercado doméstico quanto para o mercado internacional. Os filmes produzidos na época possuem natureza eclética, por exemplo, o diretor Laurent Cantet foi da investigação sobre as turistas sexuais no Haiti no filme Em direção ao Sul (2005) ao incrível drama Entre os muros da escola (2008).
Grande parte das produções da década que obtiveram sucesso internacional envolveu o cineturismo¸ mostrando clichês sobre as características dos franceses. O grande marco dessa tradição foi O fabuloso destino de Amélie Poulain (2001). Outra marcante produção francesa foi a biografia da ilustre cantora Edith Piaf, intitulada Piaf – Um hino de amor (2007). Forasteiros que chegaram para trabalhar na França ofereceram uma perspectiva diferente: por exemplo, Michael Haneke (mesmo diretor de Amour) trouxe um olhar diferente sobre a História colonial da França em Caché (2005).
Parte da produção da década foi ofuscada por representações de sexualidade gráfica, violência e apocalipse social, fase chamada de “O Novo Extremismo Francês”, a qual criou um debate acirrado entre os críticos, mas não encheu as salas de cinema. Bom, se realmente foi um período de crise como sugerido por alguns, isso demonstrou que a máxima que afirma que a diversidade gera a criatividade estava correta.
O fabuloso destino de Amélie Poulain (2001) talvez seja um dos filmes de origem francesa mais conhecido, simplesmente não tem como não se encantar por Amélie. Audrey Tautou foi escolhida pelo diretor Jean-Pierre Jeunet pra o papel por sua habilidade de combinar comédia e drama. Em tom de sépia, o encantador O fabuloso destino de Amélie Poulain é uma comédia romântica de descobertas acidentais, com a qual nos deliciamos com fatos triviais, trocadilhos e ruminações sonhadoras. A narração seca de André Dussollier junto com os flashbacks faz com que o telespectador perceba que Amélie não foi uma criança feliz. Amélie trabalha em uma lanchonete em Montmartre e dedica suas horas livres à filantropia geral, mas fica determinada a arranjar um encontro com Nino, um sonhador igualmente sem raízes, que possui a mania de colecionar fotografias rasgadas. O filme representa o ápice do estilo visual meticuloso, mas assumidamente romântico, de Jeunet. A trilha sonora ultra melódica, comandada pelo acordeão mantém uma unidade no filme.
Caché (2005) é um dos melhores filmes do diretor Michael Haneke. Georges Laurent, interpretado por Daniel Auteuil, é um intelectual que apresenta um programa elitizado de entrevistas. Seu estilo de vida burguês é perturbado pela entrega de fitas com gravações de câmeras de segurança. As fitas são repetidamente deixadas na porta de Laurent, algumas vezes embrulhados em desenhos infantis ensanguentados. Caché finge ser um thriller de suspense, mesmo quando os aspectos do filme demonstram algo diferente. Haneke está disposto a ir longe para chocar a plateia. A maior parte é filmada de meia distância, que, de forma perturbadora, parecem ser feitas do ponto de vista de uma câmera oculta.
O escafandro e a borboleta (2007) é o terceiro longa do diretor Julian Schnabel e conta a história verdadeira do editor da Elle, Dominique Bauby (interpretado por Matthieu Amaric), o qual sofre um derrame que paralisa quase todo seu corpo, exceto a pálpebra esquerda. O diretor mexe no nossa noção de tempo, mostrando-nos o reinado arrogante de Bauby como estrela do mundo da moda e seu presente frágil e sofredor. O filme mostra Bauby empenhado em escrever seu best-seller, no qual o filme foi baseado, indicando cada letra com piscadelas. Schnabel dirige com maestria um deslumbrante e rico caleidoscópio de imagens, sexualidade, desespero e merece todos os prêmios de direção que ganhou. Schnabel nos mantêm imersos nos monólogos interiores de Bauby e nos mostra que é um diretor digno de reconhecimento.
Fonte das imagens: XDesktop.
0 comments:
Postar um comentário