Decidi escrever um texto sobre o cinema brasileiro para tentar, apenas tentar, fazer com que as pessoas tirem da cabeça a ideia de que cinema nacional não é bom ou de que o cinema americano é infinitamente melhor. Já ouvi tantos absurdos sobre isso como, por exemplo, “cinema brasileiro é tão ruim que precisa de uma lei para nos obrigar a assistir”, me pergunto se pessoas que pensam dessa forma nunca assistiram a Central do Brasil, Cidade de Deus, Abril Despedaçado, Cinema, Aspirinas e Urubus e uma infinidade de outros filmes brasileiros que são verdadeiras obras-primas.
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Central do Brasil (1998), por exemplo, terceiro longa-metragem de Walter Salles, ganhou o Leão de Ouro no Festival de Berlim, tendo a super talentosa Fernanda Montenegro sido indicada ao Oscar por sua atuação como a cínica Dora, uma professora aposentada que ajuda com relutância Josué, um garoto sem lar – e redescobre sua humanidade no processo. O sucesso do filme anunciou o retorno do cinema brasileiro ao cenário mundial após anos de estagnação. Anthony Minghella disse sobre Central do Brasil: “Esse pequeno filme brasileiro tocou mais corações do que praticamente qualquer outra película que eu conheça. Trouxe consigo uma voz autêntica para o cinema internacional.” Talvez o maior sucesso de Central do Brasil tenha sido trazer Walter Salles para o rol dos diretores de renome internacional, tornando-o capaz de influenciar e apoiar outros cineastas brasileiros.
Vale lembrar que o fato de o cinema brasileiro ter uma fama tão ruim está inextricavelmente ligado à conturbada História recente de nossa sociedade. Ditadura, corrupção institucionalizada e experiências neoliberais malfadadas causaram impactos no cinema, como censura, escassez de financiamento, exílio e até assassinato. Uma ironia amarga para o Brasil foi que os governos que sucederam a ditadura foram tão nocivos para a indústria cinematográfica quanto seus antecessores. Em 1991, o diretor Héctor Babenco declarou: “O cinema brasileiro está morto”. Isso torna a subsequente volta por cima deste país um fato extraordinário. No entanto, diretores como Walter Salles e Fernando Meirelles possuem fama internacional, dirigindo filmes estrangeiros como Diários de Motocicleta e Na Estrada (ambos de Salles), 360 e Ensaio sobre a Cegueira (ambos de Meirelles).
Portanto, quero enfatizar que vale a pena assistir a filmes nacionais e conhecer um pouco mais da produção cinematográfica do nosso pais, tenho certeza que vão se surpreender. Seria bom deixar esse preconceito com as produções brasileiras de lado e aproveitar o que temos de bom. Enquanto a luta pela popularização dos filmes nacionais continua, os melhores desses cineastas estão contando suas histórias, de forma única e individual.
Fonte das imagens (respectivamente): Litcine e Juliette Revista de Cinema.