Cidadania para quem?

Ao contrário do que muitos pensam, ser cidadão não significa apenas pertencer a uma comunidade, ter certidão de nascimento e, tampouco, ter o direito, que se tornou, em certo ponto, dever, de votar. Ser cidadão é algo muito mais básico e profundo que isso. Bem, se procurarmos por uma definição no dicionário, encontraremos algo como: cidadão é o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um Estado; indivíduo que possuí direitos civis, políticos e sociais que lhe garantem a participação na vida política, ou algo em torno disso.

No entanto, podemos afirmar que somos todos cidadãos? Que todas as pessoas gozam de todos os seus direitos - direitos esses que deveriam ser garantidos por esse Estado? Não. Basta olharmos com mais atenção para o já citado ato de votar, por exemplo. Como podemos afirmar que estamos exercendo nosso papel de cidadão enquanto votamos se nem sequer temos o poder de decidir quem serão os eleitos à disputa? Ou seja, estamos cada vez mais deparados a “cidadãos” que são apenas meros espectadores de uma política que nos é imposta, não tendo direito a escolhas, requisito básico para se pensar em cidadania.

Podemos concluir, então, que um país em que há cidadania é um país em que há justiça e direitos iguais. Mas será que existe mesmo esse país? Ou melhor: se exite, será que só uma parte da população do mesmo é digna de ser considerada cidadã e as demais são excluídas? Pensando por esse lado, se grande parte da população de um país não tem sequer condições mínimas de sobrevivência e uma parte menor dele tem acesso a uma vida decente, concluímos que nem uma nem outra podem ser consideradas cidadãs. Nesse país, portanto, não haveria cidadania.

Como pode esse país denominar seus habitantes cidadãos se o que encontramos nele é, de um lado, vidas extremamente valiosas e protegidas, como as dos papas, e, de outro, vidas que são descartáveis, como as dos kamikazes? De um lado, pessoas trabalham exaustivamente em troca de salários mínimos sem na maioria das vezes sequer poder um dia ter acesso ao que produziram, e de outro, pessoas têm acesso a todos esses bens produzidos sem ter a necessidade de trabalhar exaustivamente. Que direitos iguais são esses?

E ainda: ao mesmo tempo em que percebo um avanço nas sociedades do mundo, percebo também que as “ferramentas” construídas por elas, através desse avanço, acabam por destruí-las ainda mais. É como se elas não conseguissem apenas progredir, precisariam também involuir em algum sentido, como, por exemplo, ocorreu com a invenção da bomba atômica. Essas pessoas acabam por confundir, portanto, o conceito de necessidade. E essas “necessidades desnecessárias”, que tornam-se cada vez maiores, acabam por aprisioná-las, tornando-as escravas que, na maioria das vezes, diferentemente dos escravos da Antiguidade, aceitam essa condição completamente anticidadã. Elas acabam, então, por elas próprias, escolhendo os meios para se aprisionarem cada vez mais.

É por isso, então, que a noção de reivindicação de direitos se torna importantíssima para o alcance de uma cidadania. Somente passamos a usufruir melhor de nossos direitos quando passamos a agir em prol disso. Ou seja, como defini no início, ter cidadania é participar ativamente na comunidade, assumindo deveres para com ela. É, de tal forma, algo que só acontece se for buscada.

Fonte das imagens (respectivamente): Clarear-Clareana e Um historiador.

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