Praticamente todo ano, no Brasil, centenas de pessoas morrem, ou perdem parentes e/ou conhecidos, em razão destas ocuparem áreas de risco, não é verdade? Meia verdade. Isso é o que nós ouvimos falar pela mídia todas as (frequentes) vezes em que casos como esses acontecem e por se tratar de uma meia verdade, torna-se uma mentira completa.
Por meio desse discurso transmitido (insistentemente) na mídia televisiva, os moradores de morros e favelas, em especial os pobres, são culpabilizados pelos deslizamentos de terra e inundações (e, consequentemente, por decretarem a sua própria morte), eximindo o Poder Público de qualquer responsabilidade.
Por meio desse discurso transmitido (insistentemente) na mídia televisiva, os moradores de morros e favelas, em especial os pobres, são culpabilizados pelos deslizamentos de terra e inundações (e, consequentemente, por decretarem a sua própria morte), eximindo o Poder Público de qualquer responsabilidade.
“Quem manda morar em um lugar condenado pela Defesa Civil?! Além de pobre, é burro!”. Essa é uma das frases reproduzida por grande parte da população após um novo velho caso de deslizamento de terras. Afirmo isso porque eu, em certo momento da minha vida, também já cheguei a reproduzi-la.
E os motivos para isso? Ignorância e preconceito. Ignorância por desconhecer causas diferentes daquelas colocadas pela mídia para justificar os deslizamentos e preconceito devido à reprodução das ideias não pensadas advindas do senso comum.
Senão aquela frase, outra é dita pelas pessoas: “Depois eles [as vítimas da catástrofe] vêm falar que perderam tudo. Tudo o quê, se pobre não tem nada? (risos)”. Acredito que, assim como eu, você também já escutou isso. Nesse pensamento preconceituoso, desconsidera-se que o sentimento de posse vai além do mero quesito material.
Naqueles lares, os investimentos foram materiais e simbólicos, ou seja, um vínculo afetivo com o lugar foi construído — muitas vezes por uma vida inteira. Cada objeto, cada pertence foi conquistado arduamente por meio do trabalho.
É situação recorrente, portanto, que muitas famílias residentes em imóveis condenados pela Defesa Civil permaneçam em suas casas em razão das afetividades, identificações e memórias com o lugar ou simplesmente porque não têm para onde ir, já que não foi concedida oportunidade para que essas famílias fossem relocadas para um lugar digno, que seja chamado de lar.
Assim sendo, muitas pessoas ficam à beira de abismos, os quais preveem soterramentos: a dignidade da pessoa é soterrada pela mídia, quando esta criminaliza a pobreza e a favela; a dignidade da pessoa é soterrada pela sociedade, quando esta reproduz (consciente ou inconscientemente) a falsa ideia — a tão nefasta falácia — propagada pela mídia; a dignidade da pessoa é soterrada pelo Poder Público, quando este se omite.
Perante essa situação, o que nós, cidadãos, não devemos fazer? Não mais devemos reproduzir essas frases preconceituosas sem analisá-las; não devemos aceitar o senso comum, e sim negá-lo, questionando as violações de direitos humanos por parte do Poder Público, para que, assim, mais nenhuma pessoa seja vítima. Para que não ocorra mais nenhum soterramento de dignidade.
Fonte da imagem: Yahoo! Brasil.
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