Êxito

Como poucos devem saber, fui diagnosticado com depressão há alguns meses. Sim, eu, um jovem que "tem toda a vida pela frente" e tem como maior responsabilidade apenas ir para a universidade e tentar não reprovar novamente. Na época da confirmação das suspeitas sobre minha doença - chorar sem motivo aparente é um bom indício - eu ainda não tinha um cônjuge e nem acesso à fórmula da felicidade (Oxalato de Escitalopram, Exodus para os íntimos), ambos componente importantíssimos para o meu tratamento. Mas o ponto em que quero chegar é o da desmitificação da depressão como "frescura".

Depressão é sim uma doença, e uma das que mais causam mortes por todo o mundo, porém ela começou a ser estudada a fundo apenas a partir do início do século XX, ainda que haja registros de ocorrência dela de muito antes, inclusive na época de Hipócrates. Alguns de seus sintomas são humor deprimido, fadiga constante, insônia ou hipersonia, pensamento suicida e diminuição no prazer que se costumava sentir ao realizar certas atividades. A depressão é caracterizada por um desequilíbrio de substâncias químicas no cérebro, como a serotonina, a qual é responsável pela sensação de euforia e controle do apetite e sono. E os remédios antidepressivos costumam atuar exatamente nessas substâncias. Além de ser importante citar que existem diversos tipos de depressão e que os efeitos dos remédios são diferentes para cada organismo.

É bom prestar atenção às pessoas próximas a você que costumam estar constantemente tristes e tentar ser compreensivo com as mesmas, pois estima-se que 10% dos homens e 20% das mulheres eventualmente desenvolveram a doença ao longo de sua vida. Dizer "para de frescura, anime-se!" para essas pessoas não vai ajudar em nada, muito pelo contrário, acredite. Fazer isso com uma pessoa que sofre de depressão seria similar a mandar um paraplégico deixar de ser preguiçoso e correr uma maratona, ou seja, algo desrespeitoso e desnecessário.

Nessa obra (At Eternity's Gate, 1890) de Vincent van Gogh, pintor que sofria de depressão e epilepsia e acabou cometendo suicídio, é retratado muito bem como as pessoas costumam se sentir por conta dessa melancolia crônica. A sensação é como uma dor constante e corrosiva, que, se não for tratada, acaba se tornando insuportável. Você se sente consumido pelo vazio e a inutilidade da vida. Mas, com esforço, tratamento medicamentoso (ou não) e ajuda de seus entes queridos, há uma boa chance de se curar.

Enfim, ainda estou em tratamento, mas os resultados já são perceptíveis. Tenho chorado bem menos agora só em filmes, tento manter uma média de 8 horas de sono por dia e aproveito bem mais meus momentos de diversão e, consequentemente, minha vida. Ainda que eu perca algumas noites de sono com o que chamo de "depressão pré-sono", na qual tenho os pensamentos mais aleatórios e desoladores possíveis, continuo tentando desfrutar do que me é dado. Não é fácil perder seu gosto pela companhia dos amigos, pela leitura e pela vida, mas é preciso sempre tentar enxergar o copo meio cheio e não usá-lo para ingerir todos seus remédios de uma vez só para escapar desse mundo cruel. Por fim, espero ter cumprido meu objetivo de mostrar que a depressão deve ser temida, respeitada e tratada como qualquer outra enfermidade. E que, quando você for dormir, evite pensar na insignificância de seus atos nesse universo imensurável e contente-se apenas com os carneiros.

Despeço-me com mais esta contribuição de Vincent van Gogh:
"Após a experiência dos ataques repetidos, convém-me a humildade. Assim pois: paciência. Sofrer sem se queixar é a única lição que se deve aprender nesta vida."
Fonte das imagens (respectivamente): DepressãoWikipedia.

5 comments:

  1. Eu sei que eu sou muito importante pra sua vida mesmo coff coff
    E, sim, é verdade... Quando as pessoas me falam "para de tomar esses remédios, você não precisa disso" ou "por que você tá assim? a sua vida é maravilhosa, você tem tudo! Conheço pessoas com a vida pior que a sua e que estão felizes da vida, isso é falta do que fazer" etc. só faz com que a minha situação (que, ao contrário da sua, continua grave) piore e que eu fique me achando uma inútil rebelde sem causa.
    Me identifiquei muito.

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  2. O primeiro passo para resolver um problema é reconhecer que ele existe, acho que as pessoas subestimam muito a tristeza/depressão. Texto sincero.

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  3. Completamente claro, um tanto pessoal e importante. Com uma sutileza bem humilde, e apesar do tema, nenhuma melancolia. Nenhuma. Melhoras e que isso em ti seja passado. H. B.

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