A arte de Fábio Moon e Gabriel Bá

Minha caminhada como leitor foi grande, passei por várias fases - gibis, mangás, quadrinhos - até finalmente chegar à literatura. E ainda hoje tenho grande apreço por cada uma dessas fases. Portanto, não é segredo, pelo menos para os meus amigos, o fato de eu ser um grande fã de histórias em quadrinhos. Infelizmente, ainda hoje, as histórias em quadrinhos são tidas como uma espécie de "arte menor" por supostamente terem um conteúdo de teor infantil. Todavia, embora poucos tenham conhecimento, nem todos os quadrinhos são sobre crianças aventureiras e heróis superpoderosos, foi na Nona Arte que surgiram diversas obras-primas adultas, como Maus de Art Spiegelman, Persépolis de Marjane Satrapi, 300 de Frank Miller, V de Vingança de Alan Moore e Sandman de Neil Gaiman.

Se no mundo como um todo já há uma desvalorização das HQs, no Brasil esse problema é muito mais agravante. Essa ideia de a Nona Arte ser inferior talvez remeta ao fato de que não há no país a tradição dos quadrinhos voltados para o público jovem e adulto. No Brasil, o que temos são clássicos infantis, como a Turma da Mônica do Maurício de Sousa e o Menino Maluquinho do Ziraldo. Excelentes, sem dúvida, mas pouco atraentes para o público mais maduro.

Com a falta de espaço para os quadrinhos maduros no mercado editorial brasileiro, muitos brasileiros talentosos vão trabalhar no exterior para os gigantes do ramo: Marvel e DC Comics. A maioria desses autores ganha fama internacional, mesmo que desconhecidos dentro do próprio país. Dentre esses artistas podemos destacar Ivan Reis, desenhista das histórias do Lanterna Verde, e Humberto Ramos, desenhista dos X-Men. Porém, antes de celebrar nossos desenhistas no exterior, devemos lembrar que artistas como Ivan Reis e Humberto Ramos são autores tão originais quanto músicos que se apresentam executando canções de outros artistas. É necessário que haja uma maior produção nacional original. Muitas vezes só o que se conhece do Brasil nos quadrinhos mundo afora são os personagens brasileiros criados por americanos e europeus, como os heróis Mancha Solar, da Marvel, e Fogo, da DC.

Para prova que há, sim, no Brasil publicações de qualidade no ramo dos quadrinhos atualmente (e que, por sua vez, faltam ser mais valorizadas), estão aí os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá. Nascidos na capital paulista, os dois, apaixonados pelas HQs, começaram, ainda na escola, a produzir fanzines. Posteriormente, formados em Artes Plásticas, eles levaram o hobbie de desenhar adiante. Em 2007, ano decisivo para a dupla, Fábio e Gabriel adaptaram a obra O Alienista, de Machado de Assis, para os quadrinhos, o que lhes rendeu um Prêmio Jabuti. No mesmo ano, Bá começou a desenhar The Umbrella Academy (história em quadrinhos criada por Gerard Way, vocalista da banda My Chemical Romance, que foi um sucesso de público e crítica). Moon, por sua vez, envolveu-se no projeto de Sugarshock (HQ escrita por Joss Whedon, criador de Buffy e diretor do filme Os Vingadores). Com esses trabalhos, os irmãos, em um curto período de tempo, foram das publicações independentes ao prestígio internacional. 


Para consolidar de vez a carreira internacional dos gêmeos, sua obra-prima original, a graphic novel Daytripper, foi condecorada com diversas premiações internacionais em 2011, entre elas o Prêmio Will Eisner (uma espécie de 'prêmio Nobel' dos quadrinhos). Entretanto, não consumidos pelo renome internacional, Fábio e Gabriel continuam a fazer tirinhas, bem irreverentes e reflexivas, as quais publicam regularmente em seu blog 10 Pãezinhos e que, pelo menos na minha opinião, todo brasileiro deveria conhecer.




Fonte das imagens: Depósito de Tirinhas.

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