Se no mundo como um todo já há uma desvalorização das HQs, no Brasil esse problema é muito mais agravante. Essa ideia de a Nona Arte ser inferior talvez remeta ao fato de que não há no país a tradição dos quadrinhos voltados para o público jovem e adulto. No Brasil, o que temos são clássicos infantis, como a Turma da Mônica do Maurício de Sousa e o Menino Maluquinho do Ziraldo. Excelentes, sem dúvida, mas pouco atraentes para o público mais maduro.
Com a falta de espaço para os quadrinhos maduros no mercado editorial brasileiro, muitos brasileiros talentosos vão trabalhar no exterior para os gigantes do ramo: Marvel e DC Comics. A maioria desses autores ganha fama internacional, mesmo que desconhecidos dentro do próprio país. Dentre esses artistas podemos destacar Ivan Reis, desenhista das histórias do Lanterna Verde, e Humberto Ramos, desenhista dos X-Men. Porém, antes de celebrar nossos desenhistas no exterior, devemos lembrar que artistas como Ivan Reis e Humberto Ramos são autores tão originais quanto músicos que se apresentam executando canções de outros artistas. É necessário que haja uma maior produção nacional original. Muitas vezes só o que se conhece do Brasil nos quadrinhos mundo afora são os personagens brasileiros criados por americanos e europeus, como os heróis Mancha Solar, da Marvel, e Fogo, da DC.
Para prova que há, sim, no Brasil publicações de qualidade no ramo dos quadrinhos atualmente (e que, por sua vez, faltam ser mais valorizadas), estão aí os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá. Nascidos na capital paulista, os dois, apaixonados pelas HQs, começaram, ainda na escola, a produzir fanzines. Posteriormente, formados em Artes Plásticas, eles levaram o hobbie de desenhar adiante. Em 2007, ano decisivo para a dupla, Fábio e Gabriel adaptaram a obra O Alienista, de Machado de Assis, para os quadrinhos, o que lhes rendeu um Prêmio Jabuti. No mesmo ano, Bá começou a desenhar The Umbrella Academy (história em quadrinhos criada por Gerard Way, vocalista da banda My Chemical Romance, que foi um sucesso de público e crítica). Moon, por sua vez, envolveu-se no projeto de Sugarshock (HQ escrita por Joss Whedon, criador de Buffy e diretor do filme Os Vingadores). Com esses trabalhos, os irmãos, em um curto período de tempo, foram das publicações independentes ao prestígio internacional.
Para consolidar de vez a carreira internacional dos gêmeos, sua obra-prima original, a graphic novel Daytripper, foi condecorada com diversas premiações internacionais em 2011, entre elas o Prêmio Will Eisner (uma espécie de 'prêmio Nobel' dos quadrinhos). Entretanto, não consumidos pelo renome internacional, Fábio e Gabriel continuam a fazer tirinhas, bem irreverentes e reflexivas, as quais publicam regularmente em seu blog 10 Pãezinhos e que, pelo menos na minha opinião, todo brasileiro deveria conhecer.
Fonte das imagens: Depósito de Tirinhas.
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