Pais e filhos 2.0

Enquanto fazia compras no supermercado com minha mãe, bati o olho em uma revista no caixa que me chamou a atenção. Fiquei meio envergonhada de pegar ela, de forma que fui lenta e discretamente até ela e coloquei-a na esteira, rezando para minha mãe não a perceber, o que não deu certo.

O motivo de todo o embaraço é que o público-alvo da revista são homens e, principalmente, mulheres que tem ou vão ter um filho em breve. Não, meus caros leitores, não estou esperando um filho nem pretendo ter um até conseguir estabilidade. Isso porque sempre me preocupei com o ato de criar filhos, muitas vezes achando isso uma tarefa muito complicada e de difícil acerto.

A matéria que me chamou a atenção foi uma que tratava sobre o castigo, com o título "Castigo pra pensar? nem pensar!". Isso, claro,  automaticamente me remeteu à famosa Super Nanny (sim, me desculpem, mas eu assisto a esse e a maioria dos programas do Discovery Home and Health), já que uma das mais famosas táticas dela é o cantinho da disciplina.

Ao ler o título, pensei: faz sentido, já que sempre achei esse tal cantinho, e muitas outras coisas nas ideias dela, uma coisa muito esquisita e sem sentido. Um dos principais pontos abordados na matéria, como o próprio título já diz, é a questão da relação do ato de pensar e refletir, que deveria ser algo bom e estimulado, e não como castigo, que é ruim. Isso só vai fazer com que a criança acabe relacionando o ato de pensar e refletir, com algo ruim, acabando por evitá-lo.

Além disso, é querer ser muito ingênuo para achar que a criança realmente utilizará esses minutinhos de castigo para pensar nas consequências dos seus atos. Segundo a psicóloga e pedagoga Elizabeth Monteiro, esses minutos só servem mesmo para dar um descanso aos pais, não tendo função educativa, tendo em vista que a criança só consegue realmente refletir sobre o que fez a partir dos 6, 7 anos. Vejo isso quando percebo as crianças  no programa  criando mecanismos automáticos para se livrarem do castigo, apenas falando "desculpa" sem realmente reconhecerem e se sentirem arrependidas, se sentindo, logo depois, livres para fazer todas as travessuras de novo.

Um outro ponto abordado, é a questão de que castigos como esse são verdadeiros adestramentos que não levam em conta o intelecto e o emocional da criança. Nesse sentido, seria mais interessante e educativo para as crianças se os pais, ao invés disso, criassem associação com os seus filhos, do tipo "você está triste por causa disso" e fazer com que as crianças percebam que os pais "ficaram tristes" com o que ela fez, já que, desde bem novas, as crianças conseguem perceber quando desagradam os pais, e isso não quer dizer simplesmente dizer "isso foi feio ou errado".

Além desses, outros tipos de castigos também sempre me inquietaram. Me refiro àqueles nos quais os pais tiram algo da criança por um tempo, como o videogame, por terem feito algo de errado. Como diabos eles esperam que a criança entenda isso? Pensem comigo, que relação tem a criança ter se comportado mal em algum lugar, por exemplo, com deixar de jogar videogame? O castigo só funciona se tiver correspondência direta com o erro, sendo, assim, educativo e não meramente punitivo.

Portanto, o castigo certo seria, como já disse, aquele que é educativo, possibilitando que a criança possa reparar o erro e se responsabilizar por ele. E isso não será obtido com o isolamento da criança em um cantinho por alguns minutos.

Fonte das imagens: Wikimedia Commons.

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