Um gênio idiota



Você, meu caro gafanhoto, já ouviu falar do iPhone, iPod, iPad, iMac, iTunes ou Macintosh? Claro que já... E a empresa que os criou? Isso mesmo, a Apple. E quando se fala nesses produtos e na Apple, em quem vocês pensam? Exatamente, Steve Jobs.

Confesso que, antes de ler a biografia de Steve escrita por Walter Isaacson, eu o via apenas como um executivo qualquer e tinha um certo preconceito por seus produtos, principalmente em função do alto preço, mas meu questionamento sobre Steve mudou: agora o vejo como uma espécie de gênio idiota.

Nascido em 1955 (por força do destino, no mesmo ano em que Bill Gates nasceu) e abandonado por seus pais biológicos, Steve foi entregue a um casal sob uma condição: ele teria que ir para a universidade. Desde criança, ele mostrava uma característica que iria marcá-lo por toda sua vida: só prestava atenção no que estava interessado e moldava as coisas desinteressantes para torná-las interessantes a ele, o que viria a ser chamado mais tarde por Bud Tribble como "campo de distorção da realidade de Jobs".

Amante de circuitos elétricos, praticante fervoroso do zen-busdismo, vegetariano ao extremo e usuário de drogas: esse era Steve em sua juventude, universitário fantasma em uma das universidades mais caras da região, a Reed College. Largou a universidade por achá-la desinteressante. Curiosamente, uma das maiores lições que ele teve na vida foi no Reed, mesmo já não sendo mais estudante de lá, só tinha permissão de assistir as aulas que o interessavam. (Você pode entender melhor assistindo ao vídeo no final do texto.)

Em 1976, com Wozniak e Wayne, fundou a Apple. O que havia começado com vendas de um computador de mesa para poucas pessoas, em poucos anos se transformou em uma das empresas mais influentes do mundo. Entretanto, nem tudo eram flores. Steve tinha um temperamento muito forte e um perfeccionismo exagerado, ou gostava muito de um produto ou o achava uma total porcaria. Às vezes, detonava um projeto e logo depois falava “Ok, vamos fazer isso”. Um homem de difícil convivência, tanto que, em 1985, ele foi obrigado a se retirar da empresa que criara.

Foi um período difícil na vida de Steve. Frustrado e deprimido, resolve fundar a NeXT, que não deu muito certo. Porém, nesse tempo afastado da Apple, decidiu investir boa parte do seu dinheiro em uma empresa, que mais tarde viria a ser chamada de Pixar. E, como vocês devem saber, sim, deu muito certo. Para saber mais sobre essa história, confiram o texto Pixar: Como tudo começou, da nossa colunista Tie Okajima.

Em 1996, com a Apple em decadência, o conselho decide comprar a NeXT e trazer Steve de volta. No estado em que a empresa estava, muitos não acreditavam na ascensão. Estavam errados. Com a ajuda da equipe de Steve, principalmente Tim Cook e Jonathan Ive, a Apple revolucionou a indústria da música, da telefonia móvel, dos computadores pessoais e dos tablets, sendo, hoje em dia, a marca mais valiosa do mundo, ultrapassando até mesmo a Coca-Cola.



Claro, não foi apenas Steve Jobs o criador dos aparelhos revolucionários da empresa. Boa parte deles foram ideias de outras pessoas, ele “apenas” deu seu toque pessoal no design com a ajuda de Ive, tampouco foi o melhor dos engenheiros para criar os circuitos dos produtos. No entanto, Steve teve um papel extremamente importante: se não fosse por sua carisma e habilidade de vender os produtos, talvez não teríamos toda a interface gráfica no qual estamos acostumados. Desde os experimentos de Wozniak, passando pela compra das ideias da Xerox PARC, até alguns protótipos, graças a Steve todas essas inovações saíram do anonimato e foram apresentados ao mundo ao estilo Steve Jobs.

Apesar do câncer que o atingira em meados de 2004, Steve se recusava em largar a empresa. Seu amor pelo trabalho fazia com que ele trabalhasse mesmo fraco e com muitas dores. Talvez, olhando de uma perspectiva positiva, se Steve tivesse aderido à cirurgia mais cedo, ele teria conseguido tratar melhor sua doença, mas sua crença, seus hábitos alimentares exóticos e sua teimosia só o fizeram piorar com o decorrer dos anos, fazendo-o perecer em 5 de outubro de 2011.

Um homem que gostava de ter longas conversas através de caminhadas, perfeccionista, teimoso, não gostava de apresentações com slides, grande visionário, pai (muitas das vezes ausente), sincero, arrogante, sensível e um gênio.

Não sou nenhum Applemaníaco - aliás, não tenho nenhum produto da empresa -, porém reconheço Steve Jobs como um dos ícones mais importantes do mundo tecnológico nos últimos 30 anos. Construir uma empresa, transformá-la em uma importante marca, mostrar ao mundo inovações em design, cinema e tecnologia, ressuscitar o mercado da música, popularizar o sistema de armazenamento em “nuvem”... Realmente, devemos reconhecer o papel de Steve Jobs.

Discurso de Steve Jobs, dirigido aos formandos da Universidade Stanford, em 2005. 

Fonte das imagens (respectivamente): HBS e Canaltech.

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