Leis: contra ou a favor do caos?



Bobo, besta, certinho, otário... Na tentativa de viver em sociedade, você, muitas vezes, já deve ter presenciado alguns desses adjetivos sendo dados a alguém ou a você mesmo apenas por estar seguindo as regras de algo considerado irrelevante por muitos (uma fila, por exemplo), não é? Isso se justifica porque, infelizmente, no pensamento da maioria, existem aquelas regras relevantes e aquelas irrelevantes. Entretanto, pergunto-me o quanto isso é subjetivo para cada um. Já imaginaram se cada um resolver seguir somente as regras que acharem significativas? Provavelmente, um caos. Todavia, não adianta somente seguir as regras, também existe a parte ética para a convivência entre os indivíduos. Aliás, quem nunca escutou um “ah, mas na regra não diz nada disso” de alguém que queria justificar sua atitude polêmica?

Vivemos em sociedade e tentamos torná-la harmoniosa estipulando a moral que deveria ser seguida para que houvesse tal convivência, mas, se formos parar para perceber, são muitas as vezes em que escutamos algo como “todo mundo faz” ou “estou estacionando onde não pode, mas é rapidinho”, entre outras frases comuns no dia a dia. Isso porque não baseamos nossos comportamentos no que é certo ou errado, mas sim no comportamento dos outros, pois tentamos justificar nossos erros através dos erros dos outros. Além disso, também presenciamos pessoas que reclamam das leis sendo burladas por outros, mas infringem a mesma lei sob argumentos como o famoso “é só dessa vez”. Pergunto-me se essas pessoas somente “lembram” da lei quando ela é proveitosa para elas.

Frequentemente, muitos tomam tais atitudes por não acreditarem na justiça: trapaceiam para não serem trapaceados primeiro. Em benefício próprio, suplicam à lei os seus direitos (não que seja errado procurar por direito, mas muitos buscam além disso), e este é o momento em que sempre querem levar vantagem. Consequentemente, estas pessoas pensam que a lei deve ser respeitada pelos outros, mas não refletem que a lei também é para si próprio.  

Como disse anteriormente, precisamos também da parte ética para essa convivência harmoniosa. Vivemos cercados por contratos com cláusulas enormes que muitas vezes acabamos por não ler Li e aceito os termos de uso devido à quantidade exagerada de termos, mas esse exagero tem explicação: são para que os “entendedores da lei” não protagonizem cenas deploráveis como a do vídeo abaixo. 


Para quem ainda não o assistiu, recentemente dois estudantes burlaram o sistema de refil do Burger King, uma rede internacional de lanches, filmaram e colocaram na internet - algo que muitos consideraram genial. Sim, eles mostraram as falhas naquelas discretas regras que couberam em uma página. Porém, quem imaginaria que alguém seria capaz disso? Com certeza, iremos ouvir algo como “a empresa deveria ter imaginado, ela é a culpada. Afinal, deveriam ter formulado melhor a cláusula com vários termos que necessitariam de várias páginas”. Bem, penso que, se assim ela fizesse, muitos nem saberiam dessa promoção pelo simples fato de não possuírem a paciência para passar horas lendo a cláusula para entender o funcionamento da promoção. Talvez a empresa quisesse somente simplificar a vida de seus clientes. O que quero mostrar é que eles não transgrediram nenhuma regra da promoção, mas também não fizeram uso do bom senso. Podemos não ter a obrigação, por lei, de obedecer a certos modos, mas se tivermos um pouco de bom senso, somos capazes de enxergar o absurdo que fingimos não ver em certas atitudes.

Acredito que, para que possamos deixar essa cultura de tentar levar vantagem sobre os outros de lado, devemos parar de seguir a famosa Lei de Gérson, parar de achar que determinadas violações podem ser aceitas como comuns - o que, infelizmente, se torna parte das regras de convívio da sociedade. Temos que refletir individualmente sobre nossas atitudes e opiniões, não adianta somente continuarmos falando e/ou pensando que as pessoas são assim e nunca irão mudar. Penso que o problema não está só nos outros, mas também em nós mesmos. Às vezes, fingimos não ver certas transgressões e aparentamos estar tudo bem, como se aquilo fosse normal. Costumamos pensar que, enquanto aquilo não nos afetar, não terá problema. Para começarmos a mudar esta nossa cultura, temos que inibir o prevalecimento do egoísmo nas pessoas, começarmos a pensar mais em nós como um todo. Afinal, a atitude de alguns, seja ela boa ou não, pode afetar a sociedade inteira.

Fonte da imagem: Obra Limpa.

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