Se enlouquecer, não se apaixone



Tristeza, desanimo, desgosto e baixa autoestima são sentimentos inerentes a nós, seres humanos. Por vezes nos encontramos assim e então, quase sempre, escutamos aquela velha ladainha de que existem pessoas com problemas muito maiores que os nossos e que, qualquer que seja a situação pela qual estamos passando, não é motivo suficiente pra nos sentirmos assim: depressivos. Creio que você, caro leitor, sabe bem como é isso. Vivemos constantemente sob pressão e, às vezes, lidar com isso não é nada fácil. E é exatamente sobre esse assunto que Ned Vizzini vai tratar em seu livro It’s kind of a funny story, que deu origem ao filme de mesmo nome e com tradução brasileira de “Se enlouquecer, não se apaixone”.

Craig, interpretado por Keir Gilchrist, é um adolescente comum que enfrenta problemas parecidos com os ditos anteriormente. Ambicioso, vê a possibilidade de seus planos de vida desmoronarem com a proximidade de um teste para uma das melhores faculdades do país. Como ele mesmo descreve, caso não consiga uma boa pontuação, não entrará em uma boa faculdade, não conseguirá um bom emprego, não construirá uma família e não terá uma boa vida; ao contrário de seu melhor amigo, Aaron, que aparentemente conseguirá tudo o que quiser, porque sempre se dá bem em tudo o que faz (e ainda namora Nia, garota por quem Craig nutre um amor secreto). Craig sente-se bastante pressionado pela sociedade e, principalmente, pelo seu pai, consequentemente, começa a sentir dificuldade em praticar atividades normais do dia a dia, como se alimentar. Um garoto, que tinha tudo para levar uma vida "normal", vê esta, de repente, virar de cabeça para baixo.

Frequentando um psicólogo e tomando a medicação indicada, ele sente que está começando a voltar ao normal e, por isso, para de seguir as recomendações médicas, o que faz com que tudo piore outra vez. Certo dia, a situação se torna insustentável de tal forma que a solução encontrada é cometer suicídio. Antes de sair de casa, porém, Craig liga para uma espécie de “disque suicídio” – um centro especializado em ajudar pessoas com pensamentos suicidas –, que faz com que ele se dirija ao hospital mais próximo. Lá, ele acaba sendo internado na ala psiquiátrica por ter tendências suicidas e, a partir de então, sua vida começa a mudar. Conhece novas pessoas e inicia novos relacionamentos, como com Bobby, uma espécie de mentor para Craig, interpretado por Zach Galifianakise Noelle, interpretada por Emma Roberts, por quem começa a sentir uma grande atração, ambos também sofrendo com problemas psiquiátricos; pessoas essas com quem Graig aprende e vive experiências incríveis no lugar no qual menos esperava.



Durante as consultas com uma psiquiatra, um dos principais problemas para Craig é tentar explicar a origem do seu problema. Ele vive em boas condições, tem o suporte da família, estuda uma boa escola e, supostamente, não tem motivos para estar como está. Isso o faz sentir, inclusive, vergonha de contar para os amigos da escola que está internado em um hospital por problemas mentais. Com o tempo, ele passa a aceitar melhor o que está vivendo, descobre que Nia também vai ao psicólogo e que isso não é algo tão abominável quanto parecia no início. Uma das mensagens que o filme passa é justamente essa: dentro de cada um de nós há um pouco de loucura também.

Contrariando o título dado no Brasil (pode até ser considerada uma questão de marketing vindo de “Se beber, não case”, que também apresenta Zach Galifianakis como ator), o filme, assim como o livro, vai muito além de um romance bobo e/ou drama adolescente. Apresenta uma história surpreendente com várias lições de vida. O tema pode parecer um pouco clichê, mas a obra consegue tratá-lo de forma bastante original. Além da trilha sonora que conta com a música Under pressure, do Queen, que é encaixada de forma magistral no contexto e ilustra muito bem a situação. De forma leve e divertida, como o titulo original indica (“uma espécie de história divertida”, em tradução livre), é mostrado o cotidiano de várias pessoas de diferentes idades e problemas distintos que convivem em um hospital e, apesar das dificuldades, aos poucos estão se recuperando. Em meio ao caos, descobre-se um novo hobby, um novo amor, uma nova vida.


Trailer de "Se enlouquecer, não se apaixone".

Craig vai se recuperando no decorrer da história e passa a enxergar a vida sob uma nova perspectiva. Essa é, em minha opinião, a principal reflexão proposta pela obra: a reflexão sobre os pontos de vista. Assim como o personagem de Keir, aposto que a perspectiva de vida daqueles que leem o livro e/ou assistem ao filme também é afetada profundamente. Sendo assim, não se deixe enganar pelo título nacional ou pela sinopse encontrada em alguns lugares, apesar de simples, são obras que valem a pena arriscar.

Fonte das imagens (respectivamente): Fruit Loop e Live Film.

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