Você conhece o MC Nego do Borel? Não? O Caetano Veloso sim, e até se amarra no cara. Eu estava zapeando pelos canais da TV certo dia e acabei me deparando com uma entrevista do MC Nego do Borel feita pelo Danilo Gentili - não sou fã do humorista, mas admito já ter rido de algumas de suas graças e, inclusive, já ter falado um pouco sobre humor há um tempo atrás - e acabei deixando no canal para ver no que dava.
O MC Nego do Borel é um dos precursores do Funk Ostentação no Rio de Janeiro. Em um de seus refrões, ele afirma: “Quem nasceu para ser cu, nunca vai ser pica!”, é machista, devoto de Deus e também adora se cobrir com pulseiras e cordões de ouro. Você pode achar que pela forma que o texto está tomando ele será algum tipo de crítica à sociedade e à mentalidade dos funkeiros, ou algo assim, mas não é bem o caso.
Com o decorrer da entrevista, um
pensamento se tornou recorrente em minha cabeça: “Esse MC não é de todo mal”. Talvez seja um pouco de loucura da minha parte ou algo parecido, mas pude ver certa ingenuidade
no jeito como ele se gabava pela quantidade mulheres que pegava e de quilates de ouro em seu
pescoço. Era como a criança que acaba de ganhar um brinquedo que nenhum de seus
amigos tem, sabe? Nunca fui para o Rio, muito menos para uma favela, mas
posso imaginar a infância difícil que ele teve e o quão significativo foi
conseguir dinheiro para ajudar a mãe e, claro, comprar joias.
Não estou dizendo que o MC
Nego do Borel onde esses caras arranjam esses nomes? tem
que ser eleito o homem do ano pela Rolling Stones, ou que eu acho lindo ele
denegrir as mulheres. Só penso que o meio em que se é criado influencia completamente
no caráter e personalidade de uma pessoa. Afinal, nem todos têm como pai um dos
historiadores mais importantes do Brasil, feito Chico Buarque, ou são amigos íntimos
de Gilberto Gil e João Gilberto, à la Caetano Veloso. Já ambição sim, isso
todos podem ter.
Mas claro, o mundo não é tão simples assim, nascer pobre e vencer na vida não justifica humilhar ou jogar isso na cara dos que não tiveram a mesma sorte. Isso mostra que a cultura do consumismo está tão inserida em nosso dia-a-dia, que os próprios pobres tornam-se inimigos de si mesmos, diminuindo os seus semelhantes. Eu sei, prometi não fazer desse texto uma crítica social, e cumprirei a promessa. Quem estiver interessado em uma ótima leitura sobre a questão socioeconômica envolta do Funk Ostentação, pode conferir esse texto que o Oton indicou para mim. Vale a pena citar também, um texto meu publicado no início do blog.
Mas claro, o mundo não é tão simples assim, nascer pobre e vencer na vida não justifica humilhar ou jogar isso na cara dos que não tiveram a mesma sorte. Isso mostra que a cultura do consumismo está tão inserida em nosso dia-a-dia, que os próprios pobres tornam-se inimigos de si mesmos, diminuindo os seus semelhantes. Eu sei, prometi não fazer desse texto uma crítica social, e cumprirei a promessa. Quem estiver interessado em uma ótima leitura sobre a questão socioeconômica envolta do Funk Ostentação, pode conferir esse texto que o Oton indicou para mim. Vale a pena citar também, um texto meu publicado no início do blog.
Retomando, não gosto de Funk nem de Melody,
mas não me acho superior a quem gosta - já disse isso antes e a Kih também já falou algo parecido. Mas o que esses ritmos têm em comum? Ambos surgiram em áreas pobres de cidades brasileiras - ainda que em regiões distintas, um no Sudeste, outro no Norte - e vêm sendo muito apreciados atualmente. Vide o sucesso estrondoso da música "Beijinho no Ombro", da Valesca Popozuda, Gaby Amarantos sendo
garota propaganda da Coca Cola, Gang do Eletro fazendo show na França e MCs sendo convidados para programas de entrevista. E isso é bom, mostra que nem
tudo que é produzido aqui é apenas a versão brasileira de algo vindo de fora,
mostra que, nós brasileiros, ainda somos capazes de criar e surpreender - há até
quem diga que o Melody é o novo MPB -. Da mesma forma é sempre bom lembrar, que ritmos hoje consagrados e fundamentais para a bilionária industria da música, como o Rap e o Rock, não surgiram na alta sociedade nem sempre justificam seu sucesso com poesias elaboradas e arranjos espetaculares.
Enfim, não vou comprar um
ingresso para o show do Bonde das Maravilhas nem aprender a tremer, muito menos deixar de escutar artistas internacionais que, inclusive, também são obscenos e vendem sexo através de sua composição. Só quis refletir um pouco sobre essa nossa mania de menosprezar muito do que é criado em terras tupiniquins, de julgar sem entender e desmerecer suas origens.
Aos que não sabem, sou paraense, assim como o blog e, se é para dar valor ao que é feito nas periferias, por que não dar a algo daqui? Encerro com o mais novo clipe - por sinal, muito bem feito - da Gang do Eletro, uma versão de uma das músicas mais icônicas do Melody, "Galera da Laje".
Fonte das imagens (respectivamente): Youtube & Info.
Aos que não sabem, sou paraense, assim como o blog e, se é para dar valor ao que é feito nas periferias, por que não dar a algo daqui? Encerro com o mais novo clipe - por sinal, muito bem feito - da Gang do Eletro, uma versão de uma das músicas mais icônicas do Melody, "Galera da Laje".
Fonte das imagens (respectivamente): Youtube & Info.
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