Autênticos

Autenticidade é difícil de descrever. Acho que está nos olhos de quem vê. Mas, para termos educacionais, podemos dizer que existem três formas de autenticidade: ineditismo, emocionalismo e posicionamento. Escolhi dois exemplos de vídeos do youtube que acredito que representem essas três formas.

Conheci esses vídeos através da indicação de um amigo (que, inclusive, é o Helder Lima, o mais novo surfista australiano que cuida da parte do design do blog). O primeiro é "Ég anda", de Sigur Rós, uma banda islandesa. Confira:

A autenticidade nesse vídeo é expressa no uso de diferentes animais como personagens principais. Outro ponto é que, ao longo do vídeo, você pode perceber uma relação entre esses animais e a modernidade. É como se esses animais estivessem acordando com os sons da modernidade. Com isso, eles começam a fazer parte dessa modernidade, como se pode observar no jeito pelo qual a textura das peles dos animais se combinam com o espaço apresentado logo após. O vídeo é quase sem letra e, nele, a harmonia da música vem primeiro e a letra em segundo. Isso também faz uma referência à História, porque começa com um meio rudimental (onde o peixe está) e vai para lugares mais modernos, mas, no fim, volta a esse local mais rudimental.

Acho que podemos concluir que é como se estivesse dizendo que, mesmo com toda essa modernidade, a humanidade continua um pouco rudimental, como na Era da Pedra. As três formas de autenticidade são identificadas em "Ég anda": o ineditismo vem desses personagens originais (os diferentes tipos de animais, ao invés de pessoas); o emocionalismo vem da forma como o vídeo e a música nos faz refletir, de uma forma introspectiva e filosófica; e o posicionamento "não comercial" porque não é uma música mainstream, é feita pela arte e não diretamente pelo dinheiro.

O segundo vídeo é "A take away", do Beirut, uma banda americana.

O vídeo é simples e comum, mas lindo, e as três formas de autenticidade são observadas assim: primeiramente, o ineditismo, pela escolha da banda em usar materiais e tecnologias comuns para produzir o vídeo e o uso de pessoas comuns (não artísticas) em locais comuns. Isso porque, normalmente, os videoclipes são feitos com pessoas famosas e foras do ordinário, em locais incríveis que nós, consumidores, nunca estivemos. 

Em segundo lugar, vem o lado emocional que, neste vídeo, também é representado por esses elementos comuns que faz com que ele transmita uma sensação de "lar", de algo conhecido, confortável. É como se nós estivéssemos passado por esses locais, mesmo que não tenhamos. O posicionamento não comercial é  que nesse vídeo, também, percebemos que a banda fez pelo puro prazer de se fazer música, como se fosse um acústico feito em uma cama, com apenas um círculo de amigos.

A autenticidade contribui para o poder da música porque esses vídeos "conversam" com o público. Essas formas de originalidade trazem o artista e sua artista mais próximos de nós, dando uma sensação de reconhecimento, que dão vontade de assistir a mais desses trabalhos, já que nós humanos gostamos de nos ver nas coisas dos outros. 

Esses elementos nos atraem e fazem com que a música seja mais forte, porque o videoclipe deixa de ser apenas um vídeo para se tornar uma parte do público e uma arte belíssima, como um poema, não apenas uma música industrial.