A crítica de outros setores de esquerda ao governo do PT precisa ser mais cuidadosa. Digo isso não porque comungo da retórica petista de que partidos como PSOL e PSTU servem apenas para engrossar o coro conservador da direita. Esse tipo de argumento parece, muitas vezes, bem mais uma tática de monopolização da representação política dos trabalhadores do que exatamente uma defesa racional. Mas o que venho percebendo, baseado principalmente nos acontecimentos das últimas semanas, é que a esquerda brasileira anda confusa, pois ainda não aprendeu a lidar com o fato de que, se não temos um governo de esquerda, tampouco temos um de direita.
Isso não significa que a direita não tenha mais tanto poder quanto antes, mas que a esquerda, de uma forma ou de outra, vem conquistando mais espaço. Sabemos que a direita se encontra tanto fora quanto dentro do governo de coalizão montado pelo PT, e com muita força, como é o caso do PMDB e do PSC. No entanto, as políticas implementadas nos últimos dez anos possibilitaram um sensível aumento na renda da população brasileira. Ricos enriqueceram muito, mas pobres também alcançaram certo poder aquisitivo. Por outro lado, não avançamos de forma significativa em questões como soberania popular, direito à resistência ou combate à desigualdade social, pilares das propostas de esquerda.