Feitas essas reflexões, poderá
pensar ainda que esse tipo de Estado, dificilmente seria possível nos dias de
hoje, dado o contexto no qual vivemos. Entretanto, um experimento feito pelo
professor Ron Jones, nos Estados Unidos, em 1967, prova que não é bem assim. Enquanto
ministrava aulas sobre a Alemanha nazista, questionamentos como os citados
acima surgiram entre seus alunos e, pelo desconhecimento da resposta e tempo
disponível, o professor decidiu explorar um pouco mais o tema através de uma
simulação de um governo autoritário: surge então a Terceira Onda.
Instituído um líder, obviamente Ron Jones, o grupo passou a estabelecer conceitos sobre disciplina, controle, submissão e a colocá-los em prática. Surpreso pela rapidez com que os estudantes assimilaram as suas ordens quanto a manter a postura ereta – após um breve exercício no qual mostrou a melhora que isso lhes proporcionava até mesmo na respiração –, resolveu testar até onde essa obediência iria. Instaurou regras quanto à maneira de se dirigir a ele, às formas de comportamento permitidas e com isso notou uma melhora significativa na participação e desempenho da turma como um todo. A partir daí, com a criação de um símbolo e saudação específicos, estabelecimento de uma ideologia sob o domínio de um líder, uma simulação com fins educativos saiu dos trilhos e tornou-se um movimento real do qual mais de mil alunos participaram.
Obedecendo constantemente às
ordens de Mr. Jones, como eram obrigados a chamá-lo, divulgaram o movimento e
excluíram socialmente todos aqueles que não queriam fazer parte dele, o sentimento de
pertencimento a algo faziam com que se sentissem melhores e mais importantes do que os que estavam de fora. Para alguns, a Terceira Onda tornou-se o centro de
suas vidas. Sem perceberem, tornaram-se verdadeiros neonazistas que teriam se
adequado perfeitamente caso vivessem na Alemanha comandada por Hitler, por
exemplo.
Sem dúvida, inúmeras vezes o
professor se perguntou quanto às motivações e consequências de um movimento que
tomou tamanha proporção. Por vezes se descobria agindo como um ditador de forma
intuitiva – o que conta em seus próprios relatos sobre o caso – e isso o preocupava.
Chegando ao fim da semana que inicialmente resolvera destinar à experiência,
começou a se preparar para por fim à Terceira Onda que tinha modificado tantas
vidas. Organizou então uma espécie de palestra para todos que participavam do
movimento, noticiando uma reunião para a criação do Programa de Juventude Nacional da Terceira
Onda, para a qual até a imprensa foi convidada, entretanto o rumo foi diferente do
esperado: Ron Jones mostrou o quanto haviam abdicado de sua liberdade pela
harmonia do todo e como haviam se transformado completamente o seu
comportamento em função de uma ideologia, neofascistas de fato. Assim como
aconteceu com os alemães que viveram na época do Holocausto, após o ocorrido,
ninguém conseguia admitir que havia feito parte da Terceira Onda, no qual mostraram
que um regime fascista é fácil e perfeitamente capaz de ser instituído em qualquer lugar, mesmo em
tempos modernos, como a História nos provou a partir de vários exemplo: o franquismo
espanhol, o salazarismo português, o fascismo italiano, entre outros.
É claro que – a exemplo da
Alemanha que estava arrasada e humilhada após a derrota na Primeira Guerra
Mundial, com a assinatura do Tratado de Versalhes que deixou os alemães em uma
profunda miséria, o que contribuiu expressivamente para a instalação de um regime
fascista de tais proporções – o simples estabelecimento de uma ideologia não
domina uma nação inteira, mas em contextos e condições favoráveis o desfecho
pode ser trágico e irreversível.
Com base na experiência de Ron
Jones, em 2008 foi lançado o filme alemão A onda, dirigido por Dennis Gansel. Porém,
apresentando, com consequências mais radicais e desastrosas, o que teria acontecido caso a experiência acontecesse atualmente. É um filme interessante que
mostra vários aspectos do ser humano, sua vulnerabilidade e aceitação em função
de uma ideologia chegando a níveis extremos, talvez movidos por um instinto
desconhecido e/ou oculto da raça humana.
Hoje, 7 de maio, completam-se 68
anos que a Alemanha nazista se rendeu aos Aliados na Segunda Guerra Mundial,
levando, felizmente, à desnazificação da mesma. Sendo assim, é importante lembrar
as consequências terríveis causadas pelos regimes totalitários que se
instalaram pelo mundo, principalmente no período entre guerras. Notando a facilidade
com que a Terceira Onda mobilizou vários grupos sociais nos Estados Unidos e
tendo conhecimento de que existem grupos neonazistas em potencial pelo mundo
afora, não muito distantes da nossa realidade, esse é um tema que não deve ser ignorado e nem considerado apenas na perspectiva dos "vencedores" e "perdedores", e sim analisado como algo que afeta a todos e que pode estar mais presente do que imaginamos.
Fonte das imagens (respectivamente): Café História e Wikipédia.
Fonte das imagens (respectivamente): Café História e Wikipédia.
Confesso que fiquei surpresa ao terminar de ler e descobrir que foi uma menina de 16 anos.Gostei muito e parabéns!
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