Com todas as reivindicações pedindo defesa dos direitos
humanos que vêm acontecendo, em que grupos oprimidos se engajam numa luta por
igualdade, e que tentam alcançá-la principalmente mostrando tal característica que
a sociedade tenta reprimir – como identidade sexual e cor – com orgulho, deu-se
origem a movimentos contrários como "Orgulho de ser hetero" e "Orgulho de ser branco".
Mas ora, por que alguém cuja identidade sexual já é
predominante na sociedade precisaria ter orgulho disso? Ou por que alguém que possui
a pele branca precisaria reafirmar seus direitos se vivemos num mundo em que os
brancos constituem a maior porcentagem entre os mais ricos, não sofrem
discriminação racial, têm mais oportunidades de boa educação – e, logo, de
emprego –, correm menos risco de vida* e são maioria na mídia – que os mostra
como o padrão de beleza ideal – enquanto os negros constituem a maior parte dos
que vivem com até R$ 70,00 por mês? Não teriam os homens, brancos, cristãos e
heterossexuais tudo a seu favor?
A ideia que movimentos como "Orgulho de ser hetero" e "Orgulho
de ser branco" passam faz parecer que os heterossexuais ou os brancos estariam
correndo perigo se os LGBTTTs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros)
ou negros fossem tratados com igualdade, e que precisam lutar pela sua
supremacia para não serem ameaçados ou extintos. É como se uma lei contra a homofobia
(que ainda não foi aprovada) ou a lei contra o racismo (que faz parte de nossa
Constituição desde 1988, mas que não é colocada em prática ou levada a sério
tanto quanto deveria) oferecessem algum "privilégio", e não uma promoção de
igualdade. Afinal, racismo e homofobia existem sim, e, diante de tantos
discursos preconceituosos e crimes de ódio praticados diariamente, não há
argumentos que comprovem o contrário. Logo, leis como essas só os protegem de
preconceitos e discriminações que pessoas brancas não sofrem por sua cor ou
heterossexuais não sofrem por sua identidade sexual.
Em 2011, ainda assim, o vereador Carlos Apolinário, do DEM (partido que se nasceu a partir da ARENA, que representava os militares no período da Ditadura), propôs um projeto de lei que daria origem ao Dia do Orgulho Hetero, que, supostamente, ofereceria aos heterossexuais os mesmos direitos dos homossexuais, uma vez que estes possuem o Dia do Orgulho Gay e organizam suas passeatas anualmente em várias cidades do mundo inteiro.
No entanto, além deste dia possuir uma carga histórica – uma vez que, no dia 28 de junho de 1969, aconteceu a Revolta de Stonewall, após o bar Stonewall sofrer mais uma de suas inúmeras batidas policiais sem justificativa (a não ser pelo fato de ser um bar gay), seus frequentadores se rebelaram pela primeira vez –, o orgulho vem em contraposição à palavra vergonha, tão atribuída àqueles que sentem amor e atração sexual por pessoas do mesmo sexo, assim como também foi bastante usada para designar os negros, ditos "descendentes de Caim", escravizados por tantos anos, marginalizados depois de libertos e obrigados a viver sob segregação em vários países até o século XX. E o Dia do Orgulho Hetero? Seria uma resposta à suposta "ditadura gay"? ("ditadura" esta em que, diga-se de passagem, um homossexual é assassinado a cada dois dias por nenhum outro motivo a não ser pela sua identidade sexual) Seria também o orgulho branco uma forma de exprimir um orgulho de descender de colonizadores e uma forma de insistir em se diferenciar daqueles que foram tachados de "inferiores" por tanto tempo?
Sendo assim, o orgulho heterossexual, assim como o orgulho branco, não faz sentido. Além de pessoas heterossexuais e brancas não serem oprimidas e, logo, não precisarem fazer reivindicações por isso, movimentos como esses ainda contribuem para o preconceito e a discriminação através da ideia de superioridade – tal qual nos velhos tempos nazistas –, uma vez que a única "opressão" que tais pessoas heterossexuais e brancas dizem sofrer pode ser resumida apenas ao fato de precisarem – nem que seja por lei – respeitar a diversidade sexual e racial. Afinal, o direito pelos quais estas pessoas clamam usando seus discursos ideológicos e falaciosos é para poderem exercer seu racismo, homofobia e demais preconceitos em paz. "Liberdade de expressão", segundo eles. Ou seria liberdade de opressão?
*de acordo com pesquisa recente do IPEA, jovens negros morrem mais por violência do que jovens brancos: saiba mais aqui.
Em 2011, ainda assim, o vereador Carlos Apolinário, do DEM (partido que se nasceu a partir da ARENA, que representava os militares no período da Ditadura), propôs um projeto de lei que daria origem ao Dia do Orgulho Hetero, que, supostamente, ofereceria aos heterossexuais os mesmos direitos dos homossexuais, uma vez que estes possuem o Dia do Orgulho Gay e organizam suas passeatas anualmente em várias cidades do mundo inteiro.
No entanto, além deste dia possuir uma carga histórica – uma vez que, no dia 28 de junho de 1969, aconteceu a Revolta de Stonewall, após o bar Stonewall sofrer mais uma de suas inúmeras batidas policiais sem justificativa (a não ser pelo fato de ser um bar gay), seus frequentadores se rebelaram pela primeira vez –, o orgulho vem em contraposição à palavra vergonha, tão atribuída àqueles que sentem amor e atração sexual por pessoas do mesmo sexo, assim como também foi bastante usada para designar os negros, ditos "descendentes de Caim", escravizados por tantos anos, marginalizados depois de libertos e obrigados a viver sob segregação em vários países até o século XX. E o Dia do Orgulho Hetero? Seria uma resposta à suposta "ditadura gay"? ("ditadura" esta em que, diga-se de passagem, um homossexual é assassinado a cada dois dias por nenhum outro motivo a não ser pela sua identidade sexual) Seria também o orgulho branco uma forma de exprimir um orgulho de descender de colonizadores e uma forma de insistir em se diferenciar daqueles que foram tachados de "inferiores" por tanto tempo?
Sendo assim, o orgulho heterossexual, assim como o orgulho branco, não faz sentido. Além de pessoas heterossexuais e brancas não serem oprimidas e, logo, não precisarem fazer reivindicações por isso, movimentos como esses ainda contribuem para o preconceito e a discriminação através da ideia de superioridade – tal qual nos velhos tempos nazistas –, uma vez que a única "opressão" que tais pessoas heterossexuais e brancas dizem sofrer pode ser resumida apenas ao fato de precisarem – nem que seja por lei – respeitar a diversidade sexual e racial. Afinal, o direito pelos quais estas pessoas clamam usando seus discursos ideológicos e falaciosos é para poderem exercer seu racismo, homofobia e demais preconceitos em paz. "Liberdade de expressão", segundo eles. Ou seria liberdade de opressão?
*de acordo com pesquisa recente do IPEA, jovens negros morrem mais por violência do que jovens brancos: saiba mais aqui.
Fonte das imagens (respectivamente): Don't Touch My Moleskine e TerritorioAt.