Brasil é o país do futebol.
Ninguém pode negar. É mais que um esporte. É mais que entretenimento. É uma
atividade cultural que faz parte da identidade do brasileiro, no geral, querendo
ou não. Você pode não gostar do esporte (ou até mesmo de esportes em si), mas
isso é algo visível. E não é de agora, não mesmo. São cerca de 120 anos de
prática que marcaram intrissicamente a história deste país, dentre os quais 84
anos são de Copa do Mundo. Não é à toa que a nação para funcionalmente na hora
das partidas. É esse espírito que Carlos Drummond de Andrade conta nas crônicas
feitas entre 1954 e 1986, reunidas no livro “Quando é dia de futebol”, lançado
neste ano pela Companhia das Letras.
Foi dado o apito inicial – A primeira bola de futebol foi trazida ao Brasil em 1894 pelo paulista Charles William Miller. O esporte era dominado pela elite branca, mas acabou driblando a aristocracia e tomando conta das várzeas, mesmo que clandestinamente, e se tornou a atividade esportiva mais popular do país.
A Copa do Mundo da Federação
Internacional de Futebol Associado (FIFA), acredito, foi sempre um dos fatores
que mais impulsionaram a paixão nacional pelo futebol, principalmente pelo fato
de que o Brasil foi o único país a participar de todas as edições (começou em
1930) e também é o único pentacampeão. “A vitória no Mundial de 1958, com um
time comandado pelos negros Didi e Pelé, o mestiço Garrincha e pelo capitão
paulista Bellini, ratificou o futebol como principal elemento da identificação
nacional, já que reúne pessoas de todas as cores, condições sociais, credos e
diferentes regiões do país”. (Wikipédia)
“...há no futebol valores transcendentes, que nós, simples curiosos, não
captamos, mas que o bom torcedor vai intuindo com a argúcia apurada em uma
longa educação da vista”. (ANDRADE,
Carlos Drummond, 2014, p. 19)
O passado é o presente – É essa mesma Copa do Mundo, tão importante
para a construção da identidade cultural brasileira, que é sempre tão criticada
por motivos políticos. Pode parecer que não, mas o movimento #NãovaiterCopa não
é de hoje, ao menos não em sua essência. Algo que podemos percebemos no livro “Quando
é dia de futebol”, que registra crônicas de Drummond desde a Copa de 1954 até a
última que ele registrou, de 1986, passando pela redemocratização do Brasil (da
década de 50), à ditadura militar (1964-1985) e ao início da (re)redemocratização
(1985).
Falar que a Copa traz prejuízos
ao país, por parar tudo na hora do jogo, e que é um exagero e desperdício, que
se deveria concentrar toda a energia em questões políticas (como se uma coisa
excluísse a outra), não é recente. Observe o pensamento de Drummond sobre, em
1958 (ano da vitória do Pelé):
“Não me venham insinuar que o futebol é o único motivo nacional de
euforia e que com ele nos consolamos da ineficiência ou da inaptidão nos
setores práticos. Essa vitória no estádio tem precisamente o encanto de abrir
os olhos de muita gente para as discutidas e negadas capacidades brasileiras de
organização, de persistência, de resistência, de espírito associativo e de
técnica. Indica valores morais e eugênicos, saúde de corpo e de espírito, poder
de adaptação e de superação. Não se trata de esconder nossas carências, mas de
mostrar como vêm sendo corrigidas, como se temperam com virtualidades que a
educação irá desvendando, e de assinalar o avanço imenso que nossa gente vai
alcançando na descoberta de si mesma.” (p. 25)
Quando é dia de futebol – Explicar a emoção da primeira partida de
futebol, mostrar a paixão nacional a quem não entende, fazer uma viagem pelo
passado do país. O favoritismo da Seleção Brasileira e como é “crime” ao menos
considerar a hipótese de o Brasil perder (inclusive, vamos mudar de assunto), o
jogo bonito do futebol brasileiro “parecido com o balé”. Tudo isso e mais um
pós-facio do Juca Kfouri,
a cronologia de Carlos Drummond de Andrade e ainda uma listinha de leituras
recomendadas.
“Quando é
dia de futebol”, da Companhia das Letras, é um livro pra quem gosta de
futebol se encontrar, pra quem não gosta entender essa paixão e pra qualquer um
que aprecie uma boa escrita.
Imagem: Foto de capa do livro.
Imagem: Foto de capa do livro.
Legal Kfouri ser um bom escritor, como comentarista é leviano e mente
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