Foi numa manhã de terça-feira, num rotineiro
café-da-manhã que tomava com Creusa, diarista que trabalha no meu apartamento
uma vez por semana, uma jovem senhora de cabelo loiro, pele branca que
contrasta com as bochechas rosadas e um sorriso infantil, que ouvi a frase “eu
sofri violência doméstica por vinte e oito anos”.
Tal confissão despertou não só minha indignação, mas
minha curiosidade também. Por que alguém viveria num relacionamento abusivo por
quase três décadas? Muitos simplesmente proferem a falácia que “mulher gosta de
apanhar”, mas eu, principalmente como mulher, me recuso a acreditar nisso, e
sei que é algo que vai muito além. Para mim, “mulher gosta de apanhar” é um reflexo
de uma sociedade que sempre culpa a mulher – até pela violência que ela mesma sofre
–, dita por pessoas que desconhecem o que se passa nesses relacionamentos.
Filhos, dinheiro, medo, vergonha, religião e até mesmo amor se envolvem e,
mesmo tendo a Lei Maria da Penha para a proteção feminina desde 2006, ainda é
difícil se ver livre de um relacionamento abusivo.