A crítica de outros setores de esquerda ao governo do PT precisa ser mais cuidadosa. Digo isso não porque comungo da retórica petista de que partidos como PSOL e PSTU servem apenas para engrossar o coro conservador da direita. Esse tipo de argumento parece, muitas vezes, bem mais uma tática de monopolização da representação política dos trabalhadores do que exatamente uma defesa racional. Mas o que venho percebendo, baseado principalmente nos acontecimentos das últimas semanas, é que a esquerda brasileira anda confusa, pois ainda não aprendeu a lidar com o fato de que, se não temos um governo de esquerda, tampouco temos um de direita.
Isso não significa que a direita não tenha mais tanto poder quanto antes, mas que a esquerda, de uma forma ou de outra, vem conquistando mais espaço. Sabemos que a direita se encontra tanto fora quanto dentro do governo de coalizão montado pelo PT, e com muita força, como é o caso do PMDB e do PSC. No entanto, as políticas implementadas nos últimos dez anos possibilitaram um sensível aumento na renda da população brasileira. Ricos enriqueceram muito, mas pobres também alcançaram certo poder aquisitivo. Por outro lado, não avançamos de forma significativa em questões como soberania popular, direito à resistência ou combate à desigualdade social, pilares das propostas de esquerda.
Infelizmente, o PT está grosseiramente distante de ser caracterizado como um partido que defende uma sociedade socialista. (Isso parece óbvio, mas existem muitos alarmistas da grande mídia, como Arnaldo Jabor e Olavo de Carvalho, que afirmam que o Brasil está sob o poder dos “comunas”.) Ainda que existam tendências internas como a Democracia Socialista, que, entre outras, está mais à esquerda do que o grupo majoritário do PT, esta não teve mandatos muito bem avaliados, dando lugar a mandatos neoliberais e privatizantes – no Pará, Ana Júlia (PT) foi substituída por Simão Jatene (PSDB).
Infelizmente, o PT está grosseiramente distante de ser caracterizado como um partido que defende uma sociedade socialista. (Isso parece óbvio, mas existem muitos alarmistas da grande mídia, como Arnaldo Jabor e Olavo de Carvalho, que afirmam que o Brasil está sob o poder dos “comunas”.) Ainda que existam tendências internas como a Democracia Socialista, que, entre outras, está mais à esquerda do que o grupo majoritário do PT, esta não teve mandatos muito bem avaliados, dando lugar a mandatos neoliberais e privatizantes – no Pará, Ana Júlia (PT) foi substituída por Simão Jatene (PSDB).
Para levantar essa discussão, parto do pressuposto de que o Partido dos Trabalhadores e o Partido Comunista do Brasil não são a única esquerda brasileira legítima, como já ouvi de militantes do PCdoB, mas ver militantes esquerdistas defenderem palavras de ordem do tipo "Fora Dilma" me preocupa. Sabemos que os movimentos sociais neste país ainda não estão muito afeitos à alternativa revolucionária e que a direita ainda possui muita força – esta sim é um gigante desperto –, o que também parece claro, mas, quando militantes que se dizem trotskistas reproduzem as reivindicações conservadoras que exigem o impeachment de Dilma, eles não estão defendendo, obviamente, que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) assuma a presidência; eles estão defendendo uma proposta alternativa à via institucional, a tomada do poder pelos trabalhadores. Ou seja, estão defendendo uma proposta revolucionária, mas ao mesmo tempo estão munindo a direita, que hoje é muito, muito mais poderosa do que eles.
Diante desse cenário, é preciso ser mais cauteloso, pois a probabilidade de a direita recuperar integralmente seu poder, significativamente abalado na última década, é muito alta. A via institucional ainda é definitivamente mais atrativa para a maioria da população do que processos revolucionários ou "primaveras". Logo, apoiar as vaias à presidenta, por exemplo, que foram nitidamente evocadas pelo conservadorismo brasileiro não parece ser uma tática muito inteligente em termos práticos. As "vaias" (em forma de crítica), se realmente fazem sentido para esquerdistas, devem vir pela esquerda, motivadas por reivindicações próprias da esquerda. Mas entendo que devemos reavaliar também essa cisão. As diferenças em relação ao PSTU, por exemplo, são maiores, mas o PSOL ainda se diferencia radicalmente do PT? A coalizão entre parte da esquerda é realmente impossível? O PT ainda pode girar politicamente à esquerda? Qual o papel da esquerda no combate institucional à direita?...
Num Estado capitalista em que o poder executivo e boa parte do legislativo não estão nas mãos da direita "clássica", não é inesperado que existam insatisfações à direita nem inoportuno que existam também à esquerda. Contudo, se não é possível que a esquerda se una – devido a discordâncias muito profundas ou a confusões ideológicas –, é importante que não caiamos nas armadilhas reacionárias e golpistas. Refiro-me aqui não só, mas também, às manifestações antipetistas (ou antidilmistas, as quais muitas vezes emergem como machismo). "Fora Dilma" significa, em nosso contexto, pouco além de "Dentro Michel Temer" ou "Queremos PSDB e DEM". E obviamente não é isso que PSOL, PSTU e "independentes" defendem. Não podemos ser irresponsáveis a essa altura, mesmo que o PT, que ainda é nossa melhor opção pela via institucional, não tenha conseguido ainda se desvencilhar das coalizões com a direita reacionária deste país.
Fonte da imagem: Uol.
Fonte da imagem: Uol.
Parabéns pelo texto Oton, compartilho de suas ideias e estas foram muito bem colocadas.
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